Ex-oficiais
participaram de audiência pública da Comissão da Verdade. Militares relataram
ameaças de morte, tortura psicológica e perseguições.
Em
depoimento às Comissões Nacional e Estadual da Verdade, ex-oficiais que
integraram as Forças Armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica, e policiais da
Brigada Militar do Rio Grande do Sul falaram sobre o período em que viveram
antes, durante e após o regime militar. A audiência pública ocorreu na
segunda-feira (15) no Palácio Piratini, sede do gocverno do estado, em Porto
Alegre. Os militares relataram ameaças de morte, tortura psicológica e
perseguições.
"Durante minha prisão em Porto Alegre e em Curitiba, fui humilhado e sofri tortura psicológica, sendo tratado como um bandido. Tenho colegas que foram ainda cassados e assassinados", disse o capitão do Exército José Wilson da Silva. Ele permaneceu em asilo político no Uruguai durante sete anos e respondeu a quatro processos políticos. Preso do Chuí, foi direto para o Dops, em Porto Alegre. A história foi contada em um livro intitulado "O Tenente Vermelho".
Experiência
parecida foi vivida pelo capitão do Exército Constantino José Sommer.
"Durante todo o período que exerci minha função fui perseguido e coagido.
Sofri repressão também na universidade e nos colégios que lecionei, tachado
como comunista. Em Caxias do Sul fui preso e durante 60 dias fiquei sob
vigilância extrema. Quando fui solto, não tinha dinheiro para nada, até minha
poupança sumiu do banco. Eu, minha esposa e meus três filhos vivemos a base de
água e banana durante meses. Para sobreviver, fui plantar", disse o
ex-oficial.
Para ele,
os anos de chumbo poderiam ter sido evitados: "Nós tínhamos condições de
enfrentar os que queriam aplicar o golpe de Estado, mas faltou força política
por parte do presidente João Goulart", opinou.
Ao longo de quatro horas de depoimentos falaram, também, o ex-piloto e integrante da Força Aérea Brasileira (FAB), Alfredo Daudt Júnior, o capitão do Exército Almoré Zoch Cavalheiro, o coronel da Aeronáutica Avelino Iost e o major da Aeronáutica Melquisedec Abrão Lopes Medeiros. O ex-integrante da Marinha Avelino Capitani entregou um relato por escrito às comissões. O material colhido durante depoimentos à Comissão da Verdade ficará disponível no Arquivo Nacional de Brasília e, no Rio Grande do Sul, no Arquivo Público do Estado, para que historiadores e pesquisadores possam aprofundar o assunto. O relatório conta com depoimentos de várias categorias que vivenciaram a ditadura militar, como trabalhadores, camponeses, índios, religiosos, civis e militares - com documentos que comprovam as acusações de violações cometidas durante a ditadura.
Fonte: Café História e G1