segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

HISTORIADOR DIZ QUE ARQUIVOS SECRETOS DA GUERRA DO PARAGUAI SÃO ‘MÍTICOS’

Para ele, Itamaraty deve falar sobre tema e evitar 'relações envenenadas'. Solano López declarou combate contra o império brasileiro há 150 anos.


Mesmo desconfiando da existência de documentos secretos da Guerra do Paraguai, o jornalista especializado em fatos históricos Moacir Assunção defende que o Itamaraty se posicione oficialmente a respeito das “lendas” do maior e mais sangrento conflito da história brasileira. A declaração de início do combate, que ocorreu entre 1864 e 1870 e dizimou aproximadamente 90% da população paraguaia masculina que tinha acima de 20 anos, completa 150 anos neste sábado (13). O site G1 procurou o Ministério das Relações Exteriores para comentar o tema por telefone e e-mail, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.

“Acho que eles deviam efetivamente já resolver essa questão de uma vez, dizendo o que tem e o que não tem, o que existe e o que não existe. E acho que o Brasil poderia devolver isso e qualquer outra coisa que tivesse, até porque a Argentina e o Uruguai já o fizeram. Não faz muito sentido manter isso no Brasil se isso não nos pertence. É saudável e evita que essa coisa continue envenenando as relações entre os países”, afirmou Assunção.

O jornalista conta que se interessa pelo tema desde os tempos de colégio e que há quase 20 anos se dedica a pesquisá-lo de forma mais sistemática. Ele esteve no Paraguai três vezes, entre 1997 e 1999, e também passou pela Argentina e Uruguai (países que junto com o Brasil compunham a Tríplice Aliança), além de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul – estados que serviram de cenário para o embate. Nesses locais, Assunção se dedicou a ler livros, arquivos e jornais de época.

“Eu já acreditei que esses documentos existissem, mas hoje, com base em todas as minhas pesquisas e no que converso com outras pessoas que também pesquisam o tema, eu não acredito mais. Se existirem efetivamente, não estão catalogados como da Guerra da Paraguai. A essa altura do campeonato todo mundo já sabe o que aconteceu”, disse.

“A gente vê que no fim das contas esses documentos são meio míticos. Eles possivelmente não existem, mas, se existirem, eles estão muito bem escondidos, e eu não acredito que exista algo totalmente inédito. O que a gente encontrou é talvez sobre a definição das fronteiras, algo de que o Itamaraty nem gosta de falar, porque é um tema sensível”, completou o pesquisador. 

As questões são abordadas no livro “Nem heróis, nem vilões”, que traz também entrevistas com a bisneta de Solano López e intelectuais lopistas e anti-lopistas (favoráveis e contrários ao ditador paraguaio). Há ainda bastidores de episódios importantes do conflito, como Curupaiti, a maior derrota aliada, que quase levou ao fim do conflito. Assunção defende que não há “bonzinhos ou mauzinhos” e a fome e as doenças que atingiram o Paraguai mataram mais gente que o próprio combate.


Fonte: Portal
 Café História  (Raquel Morais)