As entidades contratadas pelo Incra
para prestar Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) nos assentamentos da
reforma agrária na Paraíba vão acompanhar o trabalho dos assentados que atuam
como guardiões das sementes crioulas ou, como também são conhecidas, “sementes
da paixão”, que são variedades locais cultivadas há gerações pelos agricultores
familiares.
Com
a coordenação do Instituto de Assessoria à Cidadania e ao Desenvolvimento Local
Sustentável (IDS) – entidade contratada pelo Incra para articulação de ações de
assistência técnica –, os técnicos das entidades de Ater vão participar de
oficinas de sensibilização e orientação para a formação de novos bancos de
sementes nos assentamentos paraibanos onde ainda não existe a tradição de
guardar sementes crioulas. Outro objetivo é fortalecer a parceria com a
Articulação do Semiárido Paraibano (ASA/PB) e toda a rede estadual de sementes
através de intercâmbios.
Caberá
às entidades de Ater que atuam na Paraíba, segundo o agrônomo e articulador do
IDS Walter Vasconcelos, identificar
e catalogar os bancos de sementes existentes, acompanhar o estoque de sementes
e o trabalho desenvolvido pelos agricultores que atuam como guardiões dessas
reservas comunitárias de sementes com o objetivo de promover intercâmbios entre
agricultores assentados das diversas regiões do estado e de estimular as trocas
de sementes de modo a ampliar a rede estadual de bancos de sementes.
Jornada agroecológica. O IDS
iniciou o trabalho de fortalecimento dos bancos de sementes no final de 2014,
quando realizou uma “jornada agroecológica” para mapear os guardiões e bancos
de sementes, bem como outras experiências agroecológicas e os recursos hídricos
existentes nos assentamentos da reforma agrária na Paraíba. O trabalho foi
desenvolvido por Vasconcelos e por outros dois articuladores do IDS, a bióloga
Cláudia Reis e o zootecnista Sérgio Alves. Eles visitaram todos os territórios
atendidos pelas entidades de ater e iniciaram a sistematização dos dados sobre
os bancos de sementes da paixão.
Os primeiros resultados
apresentados pelo IDS revelaram a existência de pelo menos 14 bancos de
sementes em assentamentos paraibanos, com destaque para as regiões paraibanas
da Zona da Mata Sul, que concentra 43% dos guardiões de sementes, e da Borborema,
onde estão 40% dos assentados responsáveis pela manutenção dos bancos de
sementes.
Estes dados começaram a ser
apresentados aos técnicos das entidades de Ater em junho, quando o IDS iniciou
a chamada “Jornada de Devolução” sobre as sementes crioulas. De posse dos dados
iniciais, as entidades de Ater serão responsáveis pela complementação e
atualização das informações. A intenção, de acordo com Vasconcelos, é que, com
dados qualificados sobre a conservação das sementes crioulas, as famílias
assentadas possam ser inseridas, em 2016, em um projeto do Governo da Paraíba para fortalecimento de
bancos comunitários de sementes.
Desde junho, técnicos das entidades de
Ater que atuam em seis dos 11 territórios em que foram divididos os
assentamentos paraibanos já participaram de encontros da “Jornada de Devolução”
sobre os bancos de sementes promovida pelo IDS. As equipes dos demais
territórios devem ser visitadas até novembro. Os últimos dois encontros
aconteceram nos dias 15 e 16 de setembro no Mosteiro de São Bento, em João
Pessoa, reunindo, respectivamente, técnicos da Cooperativa da Agricultura e
Serviços Técnicos do Litoral Sul Paraibano (Coasp) que atuam nas regiões do
Vale do Paraíba e Zona da Mata Sul, e também servidores da Divisão de
Desenvolvimento de Assentamentos da Superintendência do Incra na Paraíba
(Incra/PB).
Conceito
ampliado. Vasconcelos
explicou que, atualmente, além de centenas de variedades de milho, feijão,
feijão, fava, mandioca, amendoim, coentro, jerimum, fruteiras e plantas
forrageiras, também são tidas como “sementes da paixão” espécies vegetais
nativas não destinadas à alimentação e animais criados pelas famílias
agricultoras, como galinhas de capoeira (caipira).