quarta-feira, 16 de setembro de 2015

IMPEACHMENT ESBARRA EM VÁRIAS CONTRADIÇÕES




Uma crise econômica e financeira com as dimensões da que o Brasil atravessa não se supera sem medidas duras. Todos os segmentos da população perdem com a crise, uns mais, outros menos. Quando são apresentadas as medidas duras, a questão que se coloca é quem perde mais e quem perde menos. Esse é o debate ideológico que se trava em praticamente todos os países que passam por crises como essa, e que em alguns, como Espanha e Grécia, levou à criação de novos partidos e a mudanças no quadro eleitoral.

Em todos os países, a crise no campo da economia vem acompanhada da crise no campo político, mas no Brasil a crise política ganhou maior dimensão por uma série de fatores, dos quais o principal é a tentativa de derrubar a presidente da República. Como esse é o objetivo estratégico de partidos de oposição, tendo à frente o PSDB e outros derrotados nas eleições de 2014, a superação da crise esbarra na impossibilidade de um pacto entre as forças políticas. Tudo o que o governo propuser encontrará oposição ferrenha, e acordos são inviáveis. Porque, para a oposição, a luta não é contra a crise, é contra o governo. Mais ainda: a luta é para derrubar o governo.

Essa é apenas uma das inúmeras contradições que cercam o atual momento político no Brasil, permeado ainda pelas denúncias de corrupção na Petrobras e em outras empresas estatais. Aqui no Brasil, diferentemente dos países europeus, não há forças externas explícitas determinando aos governos nacionais os ajustes que devem fazer. Na Europa, a chamada “troika” – Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional – impõe aos países as medidas que consideram adequadas. E ninguém ignora que, ideologicamente, a troika alinha-se ao conservadorismo liberal que joga ônus maiores aos trabalhadores e às camadas mais pobres, com aumento do desemprego e recessão.

Sem receber ordens externas, o governo brasileiro, em tese, estaria mais tranquilo em apresentar suas medidas para enfrentar a crise. Estaria, não fosse a diversidade ideológica das forças políticas que o integram. Não há como obter unidade em torno de medidas duras em um governo que tem, na base de apoio, da extrema-esquerda à direita, com partidos quase ideológicos e outros que não passam de balcões de negócios políticos e financeiros. No próprio partido da presidente, o PT, não há unidade acerca do que deva ser feito para superar a crise.

O reflexo disso é o conflito entre a presidente e o vice-presidente, as divergências entre ministros, o fracionamento na base parlamentar e as cisões entre petistas. O alívio para o governo é que a oposição também está dividida, não só pelas vaidades e interesses divergentes como por visões estratégicas: há os que querem o impeachment ou a renúncia de Dilma para que o vice Michel Temer assuma; há os que querem uma decisão judicial impugnando a chapa presidencial, para que haja novas eleições; e há os que querem apenas desgastar ao máximo o governo, para que se elejam em 2018.

Há também contradições nos setores empresariais, pois os interesses do capital financeiro não são exatamente os mesmos dos setores industriais e comerciais e do agronegócio. E, entre os segmentos de esquerda e sindicais também há contradições, entre as quais a maior é querer manter Dilma no governo, mas se opor aos ajustes que propõe.

Disso tudo decorre a falta de nitidez nos dois lados do espectro político, governo e oposição. Por exemplo: medidas propostas pelo governo que não agradam a setores do governo e que são rechaçadas pela oposição, mesmo quando sintonizadas com seu pensamento e sua postura tradicional.

Nesse quadro, é difícil enfrentar uma crise com as proporções da brasileira. A oposição, majoritariamente, tudo faz para que o governo caia, e para isso mudou seu discurso e não tem o menor pudor em recorrer a pronunciamentos vazios, demagógicos e populistas– um termo impreciso, mas por ela muito usado para atacar adversários. Esse discurso vazio e demagógico é repetido por políticos e movimentos da base pretensamente governista, ou governista até certo ponto.

Mesmo em situação tão incômoda, o governo tem de demonstrar firmeza e decisão, mobilizar os que o apoiam de verdade e brigar pelo que considera correto. Demonstrar indecisão e estar sempre recuando do que propõe só atrapalha. Fonte: Brasil 247.