Uma
crise econômica e financeira com as dimensões da que o Brasil atravessa não se
supera sem medidas duras. Todos os segmentos da população perdem com a crise,
uns mais, outros menos. Quando são apresentadas as medidas duras, a questão que
se coloca é quem perde mais e quem perde menos. Esse é o debate ideológico que
se trava em praticamente todos os países que passam por crises como essa, e que
em alguns, como Espanha e Grécia, levou à criação de novos partidos e a
mudanças no quadro eleitoral.
Em
todos os países, a crise no campo da economia vem acompanhada da crise no campo
político, mas no Brasil a crise política ganhou maior dimensão por uma série de
fatores, dos quais o principal é a tentativa de derrubar a presidente da
República. Como esse é o objetivo estratégico de partidos de oposição, tendo à
frente o PSDB e outros derrotados nas eleições de 2014, a superação da crise
esbarra na impossibilidade de um pacto entre as forças políticas. Tudo o que o
governo propuser encontrará oposição ferrenha, e acordos são inviáveis. Porque,
para a oposição, a luta não é contra a crise, é contra o governo. Mais ainda: a
luta é para derrubar o governo.
Essa
é apenas uma das inúmeras contradições que cercam o atual momento político no
Brasil, permeado ainda pelas denúncias de corrupção na Petrobras e em outras
empresas estatais. Aqui no Brasil, diferentemente dos países europeus, não há
forças externas explícitas determinando aos governos nacionais os ajustes que
devem fazer. Na Europa, a chamada “troika” – Comissão Europeia, Banco Central
Europeu e Fundo Monetário Internacional – impõe aos países as medidas que
consideram adequadas. E ninguém ignora que, ideologicamente, a troika alinha-se
ao conservadorismo liberal que joga ônus maiores aos trabalhadores e às camadas
mais pobres, com aumento do desemprego e recessão.
Sem
receber ordens externas, o governo brasileiro, em tese, estaria mais tranquilo
em apresentar suas medidas para enfrentar a crise. Estaria, não fosse a
diversidade ideológica das forças políticas que o integram. Não há como obter
unidade em torno de medidas duras em um governo que tem, na base de apoio, da
extrema-esquerda à direita, com partidos quase ideológicos e outros que não
passam de balcões de negócios políticos e financeiros. No próprio partido da
presidente, o PT, não há unidade acerca do que deva ser feito para superar a
crise.
O
reflexo disso é o conflito entre a presidente e o vice-presidente, as
divergências entre ministros, o fracionamento na base parlamentar e as cisões
entre petistas. O alívio para o governo é que a oposição também está dividida,
não só pelas vaidades e interesses divergentes como por visões estratégicas: há
os que querem o impeachment ou a renúncia de Dilma para que o vice Michel Temer
assuma; há os que querem uma decisão judicial impugnando a chapa presidencial,
para que haja novas eleições; e há os que querem apenas desgastar ao máximo o
governo, para que se elejam em 2018.
Há
também contradições nos setores empresariais, pois os interesses do capital
financeiro não são exatamente os mesmos dos setores industriais e comerciais e
do agronegócio. E, entre os segmentos de esquerda e sindicais também há
contradições, entre as quais a maior é querer manter Dilma no governo, mas se
opor aos ajustes que propõe.
Disso
tudo decorre a falta de nitidez nos dois lados do espectro político, governo e
oposição. Por exemplo: medidas propostas pelo governo que não agradam a setores
do governo e que são rechaçadas pela oposição, mesmo quando sintonizadas com
seu pensamento e sua postura tradicional.
Nesse
quadro, é difícil enfrentar uma crise com as proporções da brasileira. A
oposição, majoritariamente, tudo faz para que o governo caia, e para isso mudou
seu discurso e não tem o menor pudor em recorrer a pronunciamentos vazios,
demagógicos e populistas– um termo impreciso, mas por ela muito usado para
atacar adversários. Esse discurso vazio e demagógico é repetido por políticos e
movimentos da base pretensamente governista, ou governista até certo ponto.
Mesmo
em situação tão incômoda, o governo tem de demonstrar firmeza e decisão,
mobilizar os que o apoiam de verdade e brigar pelo que considera correto.
Demonstrar indecisão e estar sempre recuando do que propõe só atrapalha. Fonte:
Brasil 247.