Por Fania
Rodrigues, do MTST e Brasil de Fato
Conhecido pelos vídeos de um canal de humor da
internet e por declarações sobre a política nacional, o ator, humorista e
escritor Gregório Duvivier, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, fala
sobre mídia, conservadorismo e o cenário político atual.
“As pessoas acham que é mais seguro ser
conservador. Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo. Ele incentiva
a homofobia, o machismo e uma série de coisas que são letais.
Duvivier afirmou acreditar na arte como um
instrumento de transformação. “Um dos papéis mais importante do humor é puxar o
tapete das certezas”. Nesse sentido, deixou clara sua posição em relação ao
governo: “ódio ao PT é um ódio de classe. O que me incomoda não são essas
pessoas estarem criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas
razões erradas”. Confira a íntegra da entrevista.
Qual é o papel do humor e da arte no debate
político da sociedade?
O artista é parte da sociedade, mas também é um
agente transformador. Um dos deveres do artista é contribuir para uma sociedade
melhor. A arte é muito poderosa. Quando alguém escreve um livro está criando um
mundo. Isso pode ser transformador. E um dos papéis mais importante do humor é
puxar o tapete das certezas.
Você tem uma coluna na Folha de S. Paulo e
faz trabalhos na Globo. Acha que é possível romper o discurso conservador da
grande mídia?
É muito difícil. Em alguns meios mais que em
outros. Na Globo é mais difícil que na Folha. Um programa na Globo
passa por 12 pessoas (antes de ser aprovado), em geral todas de
interesses conservadores. Todas as etapas são conservadoras dentro da Globo.
A Folha, ainda que seja uma empresa conservadora, também abriga
várias pessoas de esquerda lá dentro. Na Folha nunca fui
censurado.
Em sua opinião, o conservadorismo está melhorando
ou piorando?
Está piorando. No Congresso os conservadores têm
uma bancada muito organizada. A sociedade sempre foi conservadora, mas
antigamente não estava tão bem aparelhada. Hoje a gente tem a bancada dos BBBs:
do boi, da bala e da Bíblia, que são os ruralistas, militaristas e
evangélicos. Essas três bancadas estão unidas. Existe uma escalada do
pensamento conservador e isso é muito perigoso.
Perigoso em que sentido?
As pessoas acham que é mais seguro ser conservador.
Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo. Ele incentiva a homofobia,
o machismo e uma série de coisas que são letais. O Brasil é o país com o maior
número de assassinatos do mundo. Uma das críticas que tenho ao PT é o incentivo
à indústria bélica. Somos um dos maiores produtores de armas leves, como o
revólver. A Primavera Árabe foi sufocada com armas brasileiras.
Você acha que a sociedade pode regredir ainda mais?
Esse perigo existe. O Brasil está virando um país
mais careta. Estamos indo na contramão do mundo. Os Estados Unidos, um país que
sempre foi moralmente conservador, aprovou o casamento gay e liberou o uso da
maconha em alguns estados. E não tem mais gays ou maconheiros por causa disso.
As coisas não deixam de existir porque são proibidas, como o aborto, que expõe
a mulher ao risco de morte. Nesse caso, a mulher pobre.
Tem uma parte da classe média que odeia o PT. Qual
é a razão desse ódio?
Acho que as críticas ao PT são fundadas, na maioria
das vezes, na ignorância. O que me incomoda não são essas pessoas estarem
criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas razões erradas. Não
estão batendo no PT por ele ser militarista, anti-ambientalista, anti-indígena.
Isso a direita não diz. Vejo a direita dizendo que o Brasil vai virar Cuba.
Definitivamente, se tem uma coisa que o governo Dilma não está fazendo é
transformar o Brasil em Cuba. Qual é a principal crítica ao PT, é a corrupção?
Até agora os maiores escândalos de corrupção não são do PT, são do Eduardo
Cunha e do Renan Calheiros, os dois do PMDB, que também compôs o governo
Fernando Henrique Cardoso.
E também tem a questão do ódio de classe.
O ódio ao PT é um ódio de classe. O pobre tem mais
acesso a bens de consumo e a lugares que antes não tinha. Os pobres começaram a
ocupar os lugares. Isso aí os ricos nunca vão tolerar, ter que conviver com
pessoas pobres. Além disso, a Veja e a Globo não elegem mais o presidente da
República. Olha o ódio que isso deve causar. A mídia estava acostumada a
colocar e a tirar do poder quem ela quisesse. Hoje não é mais assim não.
Por que a sociedade tolera políticos como Eduardo
Cunha?
As pessoas toleram aquilo que a mídia diz que é
aceitável. Acabaram de descobrir uma conta do Eduardo Cunha de 5 milhões de
dólares, na Suíça, e não foi capa de nenhuma revista ou jornal. Não foi capa da
Veja, que está super indignada com a corrupção. Essa revelação é muito mais
grave que qualquer outra coisa que já acusaram a Dilma. A indignação do povo é
muito pautada. Fonte: Brasil 247.