Por Alex Solnik.
Sugiro
que nos internemos, todos, num hospício e só Eduardo Cunha permaneça livre.
Pois estamos loucos. E eu provo.
Estamos
loucos – tanto é que acreditamos nas autoridades suíças que informaram terem
bloqueado 5 milhões de dólares cujos beneficiários são Eduardo Cunha e sua
mulher, Claudia Cruz, acusação de que ele foge como o diabo da cruz.
Estamos
loucos – tanto é que acreditamos em operadores presos na Lava Jato que
informaram ter depositado 5 milhões de dólares na conta de Eduardo Cunha, o que
ele nega de pés juntos.
Estamos
loucos porque entendemos que, quando Eduardo Cunha cancela na última hora
viagem à Itália, logo depois das notícias de contas bloqueadas na Suíça, o
gesto tem a mesma motivação de Paulo Maluf e de Marco Polo Del Nero, arriscados
a cair nas malhas da Interpol se puserem os pés para fora do Brasil. Mas
Eduardo Cunha cancelou, disse ele, para ir ao casamento de Romero Jucá.
Estamos
loucos porque entendemos que esses fatos deveriam provocar reações de repúdio
de toda a Câmara dos Deputados, mas o líder do maior partido de oposição,
Carlos Sampaio, do PSDB, vem a público, com aquele semblante de João Bafo-de-Onça
do "Tio Patinhas", nos avisar que não há por que deixar de apoiar
Eduardo Cunha, não há provas contra ele.
Nós,
que estamos loucos, nos indagamos como esse líder pode, ao mesmo tempo,
defender alguém com tantas marcas de batom na cueca e querer impeachment de uma
presidente que não tem nenhum. Mas ninguém nos dá atenção. Estamos loucos.
Nós
estamos loucos! Nós que achamos que uma pessoa sob o peso de tantas acusações
vindas de tantos lados diferentes não tem condições morais de permanecer à frente
da Câmara dos Deputados. E continuar sendo o segundo na sucessão presidencial.
Nós
que achamos que um presidente dessa envergadura contribui para a desmoralização
de toda a Câmara dos Deputados.
Nós
que achamos que as leis são iguais para todos.
Por
isso proponho: nos internemos todos.
Menos
Eduardo Cunha. Ele é o único são.
(Alex Solnik é
jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé,
Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os
quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar",
"A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly"
– lançamento em 2016).
Fonte: Brasil 247.