Milhares de pernambucanos, semana após semana, reservam dias para praticar exercícios físicos ou curtir a natureza no Parque da Jaqueira. Mas, provavelmente, a maior parte deles desconhece o percurso e valor histórico do local. Considerado o terceiro maior parque da cidade – atrás do Parque de Exposição (Cordeiro) e do Parque Santana (Graças) -, aquela considerável área verde já foi um pouco de tudo: sítio, campo de futebol, área planejada para receber loteamentos de casas para funcionários do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), até, por fim, em 1984, assumir a atual função.
De acordo com o historiador Leonardo Dantas, o
espaço, inicialmente, era uma propriedade de um rico comerciante recifense
chamado Henrique Martins. No local, funcionava, de fato, um grande sítio. Foi
justamente o dono das terras que, ainda no século 18, ordenou a construção da
capela de Nossa Senhora das Barreiras, que marca o parque. “Ela é uma das joias
do barroco mundial. Um dos exemplos do barroco português pelas obras de artes
que possui e pelos artistas que participaram de sua concepção”, explica.
Na década de 1930, de sítio, o lugar virou campo de futebol. Na época, a Jaqueira abrigou um clube de futebol de carreira curta, que desafiou o trio da ferro da capital. O Pernambuco Tramways, formado por funcionário da empresa inglesa responsável pelos bondes elétricos, trens e telégrafos do Recife, foi bicampeão invicto em 1936 da Liga Esportiva de Pernambuco, o equivalente ao atual Campeonato Pernambucano – e até hoje, nenhum clube repetiu o feito. “Era um time muito forte e competitivo. Naquele tempo, não havia a profissionalização. Mas os jogadores do Pernambuco Tramways ficaram reconhecidos pelo fenômeno do amadorismo marrom, afinal de contas, eles recebiam salário da empresa e jogavam”, explica Rostand Paraíso, autor do livro Esses Ingleses, um relato sobre a presença destes estrangeiros no Recife.
Segundo a professora de desenvolvimento urbano da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Ana Rita Sá Carneiro, em 1951, o paisagista Burle Marx desenhou e doou um projeto para o entorno da igreja. O espaço ainda era usado como campo de futebol por outros clubes, como o América. “O resultado nós temos hoje. Burle Marx pensou toda aquela vegetação, os bancos ao lado da igreja, que funcionam como uma moldura”, explicou a professora.
Quase abandonado, na década de 1970, o local passou a receber a Feira do Comércio e Indústria de Pernambuco, a Fecin. Tratava-se de uma espécie de parque de diversões popular que ficava montado alguns meses no ano e reunia pessoas de vários bairros e cidades da Região Metropolitana do Recife. Considerada como um equipamento voltado ao público, a feira recebeu isenção de impostos em 1970 e exibia o nostálgico tobogã plástico em que crianças desciam em sacos de ráfia.
Em 1984, na gestão do prefeito Joaquim Francisco,
iniciou-se a campanha para transformar o terreno em um grande parque na cidade.
O antigo campo era, então, de propriedade do Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS) e o plano era, ali, construir um residencial popular. No entanto,
o terreno foi cedido por meio de contrato de comodato para a Prefeitura do
Recife por 20 anos. Antes do término do acordo, em virtude da Lei Federal
10.175, o órgão foi obrigado a doar o espaço para o município, em 2001. “É um
dos nossos melhores parques e ele atende exatamente essa necessidade que temos
de espaço contemplativo e voltado para a prática do exercício físico”, completa
Ana Rita. Fonte: Diário de Pernambuco.