O poeta
mineiro Carlos Drummond de Andrade foi considerado um dos mais influentes do
século 20. Ao longo de seus 85 anos publicou mais de 30 livros de poemas, e
quase 20 de prosa, além de integrar antologias poéticas e produzir histórias
infantis. Porém, não imaginava que ao publicar o poema Lira Itabirana
estaria prevendo um dos maiores, quiçá o maior desastre ambiental da história
do Brasil: o rompimento das barragens da Vale-Samacro em Minas Gerais.
Há dias o Brasil vive uma de suas maiores
tragédias. A irresponsabilidade da empresa Vale-Samacro pode resultar no fim do
Rio Doce, que, com seus 853 km de extensão, banha os estados de Minas Gerais e
Espírito Santo.
A Vale do
Rio Doce-Samarco foi instalada na região no início da década de 1940 e muitas
empresas, atraídas pelas reservas de ferro, se estabeleceram na cidade natal do
poeta, Itabira. Poucos anos antes de sua morte, em 1984, Drummond publicou o
poema que parece ser o retrato do desastre que destruiu o Rio, antes doce.
Leia
a íntegra abaixo.
“Lira Itabirana”
O
Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre
estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A
dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
Quantas
toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Fonte: Pragmatismo Político