Por Paulo Baia – Sociólogo e
Cientista Político.
O voto é o resultado da
articulação dos afetos e dos desejos; sua racionalidade está no domínio da
emoção. A cidadania sofre a ação dos desejos declarados ou não ditos, sendo em
sua concretude racional diária incapaz de agir sobre os sentimentos.
Analisar o porque do voto, nos
traz uma dualidade; pois procuramos cálculos políticos nas escolhas e a decisão
de fato está vinculada ao terreno movediço das paixões.
A emoção, mais que a razão, opera
a formatação da interioridade de cada eleitor, sendo o ato de votar a expressão
mais profunda de uma verdade passionalizada pelo desejo.
O voto no mundo da política real
é a materialização da fantasia. O voto é um ato de prazer, de ódio, de
desprezo, de felicidade, de depressão ou de euforia.
O voto é a manifestação palpável
de dimensões afetivas subjacentes às relações políticas visíveis na
racionalidade aparente das práticas de governo e Estado. O voto é um
agradecimento, uma vingança, um pedido de perdão ou de socorro.
O voto é um emblema de esperança.
Seu simbolismo está no poder real de fundar uma nova ordem afetiva para os
sentidos diários da vida do eleitor. O voto é uma catarse.
O voto tem uma lógica
eminentemente afetiva, construída na subjetividade do eleitor a partir de um
arsenal de artifícios, de manobras e representações do imaginário social e dos
sentidos. O voto é uma estratégia da emoção. E muitas vezes uma cilada dos
desejos.
O voto é então uma forma acabada
de afeto, incubado por sofrimentos, gratidões, êxtases e alegrias. Votar é
fazer do devaneio realidade política.
O voto está muito além do
realismo político; ele é o momento em que se produz a transmutação dos sentidos
represados na alma em gozo.
O voto é o acontecimento de um
sonho.
De Mala Direta EAD