Por Bernardo Mello Franco, Folhapress.
O tumulto que esvaziou um teatro
em Belo Horizonte é mais uma amostra de que a radicalização política está
transformando o Brasil num país dividido –e à beira de um ataque de nervos.
Na semana mais quente da crise,
o ator Claudio Botelho fez uma fala agressiva no palco, chamando a presidente
Dilma Rousseff de ladra e o ex-presidente Lula de ladrão.
Parte da plateia vaiou e se levantou
para abandonar a peça. O ator passou a provocar o público, que respondeu com
gritos de “Não vai ter golpe!”. As cortinas se fecharam. Não teve mais
espetáculo.
Botelho não se acalmou. No camarim,
discutiu com colegas e chamou os espectadores da peça de “bandidos”,
“neofascistas” e “filhos da puta”. “São escrotos, são petistas, são o que há de
pior no Brasil”, esbravejou.
A atriz Soraya Ravenle protestou
contra sua atitude no palco, mas ele continuou aos berros: “Ela [a presidente
Dilma Rousseff] é bandida!”. “Ela é ladra!”. “Eu sou o dono!”. “A peça é
minha!”.
O episódio é curioso porque o
espetáculo era inspirado em músicas de Chico Buarque. Há três meses, o artista
foi alvo do mesmo discurso de ódio ao sair de um restaurante na zona sul do
Rio.
Chico apoiou Lula e Dilma com
base em suas ideias, das quais se pode discordar sem xingamentos. Ele também já
fez campanha para adversários do PT, como Fernando Henrique Cardoso e Marcelo
Freixo, o que não é lembrado por seus detratores.
O chilique de Botelho expõe uma
face da nova direita verde-amarela que muita gente (e boa parte da mídia)
prefere fingir que não vê.
Há um clima de raiva e
intolerância no ar – que hoje se volta contra o PT, mas poderá atingir outras
forças políticas. Basta ver o que ocorreu no dia 13, quando os tucanos Aécio
Neves e Geraldo Alckmin foram hostilizados e enxotados da avenida Paulista.
Perseguido pela ditadura
militar, Chico já viu este filme antes. Por isso, retirou a autorização para
Botelho usar suas canções. Nos próximos musicais, é possível que o ator tenha
que recorrer ao repertório de artistas que também aderiram à gritaria
antiesquerdista, como Lobão. Será que o teatro lota? Fonte: Pragmatismo Político.