sábado, 2 de abril de 2016

NÃO DEIXEMOS QUE ROUBEM O BRASIL DOS BRASILEIROS



O Brasil vive um momento crítico. Uma situação gravíssima de desgoverno, ocasionada pela crise política, econômica, institucional, ética e moral fragilizando a vida e a organização de toda a sociedade. O trem está desgovernado. Os governantes se sentem dispensados de dar satisfações ao Povo.  Não respeitam as instituições e zombam da justiça! Divulgam listas intermináveis, de escolhas absurdas e interesseiras. O povo é traído e abandonado pelo Congresso Nacional, indigno e omisso. Os nossos parlamentares vivem costurando cargos e comissões em benefícios próprios.

Este país tem sido corroído pela corrupção e, ultimamente, uma corrupção institucionalizada, meta do próprio Estado. Pessoas e instituições entram num processo de decomposição e vão perdendo sua condição de entidade, sua capacidade de ser, de crescer, de servir a sociedade. Precisa-se olhar para o Evangelho, aprender a discernir os diversos estados de corrupção que nos circundam e ameaçam nos seduzir. Não se pode aceitar em hipótese alguma o estado de corrupção como mais um pecado.

“Pecador, sim”; “corrupto, não”.  Sentir e dizer-se pecador, e, nesse momento, abismar-se na misericórdia do Pai, que nos ama e a todo momento nos espera. “Pecador, sim”, como dizia o publicano: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!” (Lc. 18,13). Ao contrário, o corrupto está tão mergulhado na satisfação de sua autossuficiência, que não permite nenhum questionamento. Coloca-se acima ou no próprio lugar de Deus. “Assim acontece com que ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para Deus.” (Lc, 12,21). Sente-se à vontade e feliz e quando a situação fica difícil, conhece todas as desculpas para escapar, diz-se não saber de nada, como fez o administrador corrupto (cf. Lc 16, 1-8).

A atitude do corrupto é enganosa, de atalhos vantajosos a preço de sua própria dignidade e a dos outros. O que faz um ex-presidente numa situação concreta de Mensalão, Propinoduto, Petrolão, Lava Jato, aceitar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil? Não é confessar o que disse antes: “Quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba, vira ministro”? Pensa que o povo não tem memória? No Brasil, onde está a bancada, “evangélica”? Será que se corrompeu? Onde estão os cristãos? Corromperam-se? O que leva um religioso a participar de um ambiente de corrupção? 

O corrupto tem cara de “não fui eu”. É difícil um corrupto aceitar o Evangelho da libertação. O corrupto não aceita questionamento. Ele fica mal, desequilibra-se, desqualifica a pessoa ou a instituição que o questiona, procura aniquilar toda autoridade moral, desvaloriza os outros e arremete com o insulto quem pensa diferente (cf. Jo 9,34). Utiliza os meios mais ridículos, esdrúxulos e imorais para atacar os outros. É uma degradação total.

O corrupto costuma se perseguir e é tal a raiva que lhe causa em autoperseguição que a projeta nos outros, e, de auto perseguido, transforma-se em perseguidor. Ele aparece no Evangelho jogando com a verdade: fazendo armadilhas a Jesus (cf. Jo 8,1-11; Lc 20,1-8), fazendo intrigas para tirá-lo do caminho (cf. Jo 11,45-57), subornando quem tem capacidade de trair (cf. Mt 26, 14-16) ou os oficiais da lei (cf . Mt 28, 11-15). São João os engloba numa só frase: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5). Homens que não percebem a luz.

É preciso indignar-se diante desta política partidária desastrosa no Brasil em âmbito federal, estadual e municipal. A democracia brasileira construída com tanto sacrifício está desmoronando às claras. Que o povo fale e não permita esse desastre. A lava Jato precisa avançar com celeridade e apuração de todos os fatos. Ela é uma luz para o Brasil e os brasileiros. Condutas criminosas não podem ser toleradas. Conversa-se que é difícil o surgimento de um líder político capaz de gerar agregação e apontar novas direções, justamente pelo atual cenário vivido pela política partidária. Como chegamos a esse ponto? É um momento delicado do Brasil pelos desvios de finalidades da administração pública. Revela uma grande fragilidade deste atual governo. Este cenário vivido no Brasil não pode continuar. Faço votos que o Brasil consiga superar, amadurecido, este momento delicado e retome o seu desenvolvimento com pessoas novas comprometidas com o bem comum. Enfim, não deixemos que roubem o Brasil dos Brasileiros e vivamos cheios de esperança.

Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, bispo diocesano de Guarabira (PB)