O Brasil vive um momento crítico. Uma situação
gravíssima de desgoverno, ocasionada pela crise política, econômica, institucional,
ética e moral fragilizando a vida e a organização de toda a sociedade. O trem
está desgovernado. Os governantes se sentem dispensados de dar satisfações ao
Povo. Não respeitam as instituições e zombam da justiça! Divulgam listas
intermináveis, de escolhas absurdas e interesseiras. O povo é traído e
abandonado pelo Congresso Nacional, indigno e omisso. Os nossos parlamentares
vivem costurando cargos e comissões em benefícios próprios.
Este país tem sido corroído pela corrupção e,
ultimamente, uma corrupção institucionalizada, meta do próprio Estado. Pessoas
e instituições entram num processo de decomposição e vão perdendo sua condição
de entidade, sua capacidade de ser, de crescer, de servir a sociedade.
Precisa-se olhar para o Evangelho, aprender a discernir os diversos estados de
corrupção que nos circundam e ameaçam nos seduzir. Não se pode aceitar em
hipótese alguma o estado de corrupção como mais um pecado.
“Pecador, sim”; “corrupto, não”. Sentir e
dizer-se pecador, e, nesse momento, abismar-se na misericórdia do Pai, que nos
ama e a todo momento nos espera. “Pecador, sim”, como dizia o publicano: “Ó
Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!” (Lc. 18,13). Ao contrário, o
corrupto está tão mergulhado na satisfação de sua autossuficiência, que não
permite nenhum questionamento. Coloca-se acima ou no próprio lugar de Deus.
“Assim acontece com que ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para
Deus.” (Lc, 12,21). Sente-se à vontade e feliz e quando a situação fica
difícil, conhece todas as desculpas para escapar, diz-se não saber de nada,
como fez o administrador corrupto (cf. Lc 16, 1-8).
A atitude do corrupto é enganosa, de atalhos
vantajosos a preço de sua própria dignidade e a dos outros. O que faz um
ex-presidente numa situação concreta de Mensalão, Propinoduto, Petrolão, Lava
Jato, aceitar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil? Não é confessar o que
disse antes: “Quando um pobre rouba, vai para a cadeia; quando um rico rouba,
vira ministro”? Pensa que o povo não tem memória? No Brasil, onde está a
bancada, “evangélica”? Será que se corrompeu? Onde estão os cristãos?
Corromperam-se? O que leva um religioso a participar de um ambiente de
corrupção?
O corrupto tem cara de “não fui eu”. É difícil um corrupto aceitar o
Evangelho da libertação. O corrupto não aceita questionamento. Ele fica mal,
desequilibra-se, desqualifica a pessoa ou a instituição que o questiona,
procura aniquilar toda autoridade moral, desvaloriza os outros e arremete com o
insulto quem pensa diferente (cf. Jo 9,34). Utiliza os meios mais ridículos,
esdrúxulos e imorais para atacar os outros. É uma degradação total.
O corrupto costuma se perseguir e é tal a raiva que
lhe causa em autoperseguição que a projeta nos outros, e, de auto perseguido,
transforma-se em perseguidor. Ele aparece no Evangelho jogando com a verdade:
fazendo armadilhas a Jesus (cf. Jo 8,1-11; Lc 20,1-8), fazendo intrigas para
tirá-lo do caminho (cf. Jo 11,45-57), subornando quem tem capacidade de trair
(cf. Mt 26, 14-16) ou os oficiais da lei (cf . Mt 28, 11-15). São João os
engloba numa só frase: “A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a
compreenderam” (Jo 1,5). Homens que não percebem a luz.
É preciso indignar-se diante desta política
partidária desastrosa no Brasil em âmbito federal, estadual e municipal. A
democracia brasileira construída com tanto sacrifício está desmoronando às
claras. Que o povo fale e não permita esse desastre. A lava Jato precisa
avançar com celeridade e apuração de todos os fatos. Ela é uma luz para o
Brasil e os brasileiros. Condutas criminosas não podem ser toleradas.
Conversa-se que é difícil o surgimento de um líder político capaz de gerar
agregação e apontar novas direções, justamente pelo atual cenário vivido pela
política partidária. Como chegamos a esse ponto? É um momento delicado do
Brasil pelos desvios de finalidades da administração pública. Revela uma grande
fragilidade deste atual governo. Este cenário vivido no Brasil não pode
continuar. Faço votos que o Brasil consiga superar, amadurecido, este momento
delicado e retome o seu desenvolvimento com pessoas novas comprometidas com o
bem comum. Enfim, não deixemos que roubem o Brasil dos Brasileiros e vivamos
cheios de esperança.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena, bispo
diocesano de Guarabira (PB)