O presidente em
exercício Michel Temer terá de lidar com o descontentamento nas Forças Armadas
com as graves restrições orçamentárias que vêm enfrentando nos últimos anos. A
Marinha está com 46% da frota parada e sem navios de escolta suficientes para
dar proteção às plataformas do pré-sal. A previsão é que o projeto de
construção do submarino com propulsão nuclear atrase mais quatro anos, sendo
concluído após 2025 - última projeção feita. No Exército, a situação
também é considerada complicada e houve necessidade de se fazer um redesenho do
portfólio estratégico da Força. Os frequentes contingenciamentos exigiram
redução drástica na linha de produção do blindado Guarani, que poderá levar a
Iveco, fabricante do equipamento, a suspender a produção por falta de
pagamento. Segundo informações, o Exército não terá recursos para pagar a
empresa daqui a três meses. Na Aeronáutica, não é diferente. Quase metade
da frota está parada. A construção do avião cargueiro KC 390 só está em
prosseguimento porque a Embraer, mesmo sem receber o R$ 1,4 bilhão devido pelo
governo federal, está bancando o projeto sozinha, que já sofre atraso de dois
anos na sua certificação. "Quase a totalidade do orçamento (da pasta)
hoje é consumido com custeio de pessoal, deixando em segundo plano projetos que
são fundamentais para a garantia da soberania do País e para o avanço
tecnológico que, apesar de serem germinados na Defesa, transbordam a Defesa e
trazem benefício para todo o desenvolvimento do País", disse ao Estado o
novo ministro da Defesa, Raul Jungmann. "Precisamos criar base para ter
uma previsibilidade para garantir desembolso de recursos que deem continuidade,
em um ritmo adequado, dos projetos estratégicos evitando que projetos que
deveriam durar cinco, seis anos, não durem 20 ou 30 anos, como estamos vendo
hoje". Fronteiras. Jungmann fez referência, por exemplo, ao projeto
do Sistema Integrado de Monitoramento das fronteiras (Sisfron). "Ele é de
importância vital para o País", afirmou , para quem o Brasil tem de ter
"um cuidado especial com suas fronteiras, especificamente com a Venezuela
que hoje vive em uma instabilidade grande e que muitas vezes provoca uma
migração para cá". O Sisfron começou a ser implantado em 2013, com
prazo de conclusão de 10 anos. Só que, se for mantido o cronograma atual de
repasses, ele só será finalizado em 2040, já com equipamentos obsoletos. O
atraso impacta 22 empresas nacionais de alta tecnologia envolvidas no processo,
com demissão de pessoal qualificado e eliminação da capacidade
produtiva. Dos R$ 185 milhões que o Exército precisava, no mínimo, este
ano, para dar prosseguimento ao projeto em 2016, a previsão - ainda sujeita a
cortes - não chega a R$ 140 milhões. Os chamados restos a pagar do ano passado
que já deveriam ter sido repassados às empresas que estão trabalhando no
projeto somam R$ 236 milhões. A Marinha - cujos navios que estão operando
tem idade média de 33,3 anos - também sofreu um forte baque no final de 2015,
quando teve de suspender, devido a restrições orçamentárias, o projeto para
controlar e vigiar a zona econômica exclusiva brasileira do Oceano Atlântico,
chamado de Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz). O projeto,
semelhante ao Sisfron das fronteiras, iria proteger uma área de 4,5 milhões de
quilômetros quadrados do Atlântico, onde o Brasil tem imensas plataformas
petrolíferas. No caso da Aeronáutica, a demora do governo em concluir a
compra de 36 aviões de caça para atualizar a frota da Força Aérea Brasileira
deixou ameaçada a capacidade do País de proteção do espaço aéreo nacional. O
projeto só foi assinado em agosto passado, após se arrastar por mais de 12
anos. Outro projeto que sofre restrição orçamentária é o programa de dados, que
permite o uso de comunicação por data link entre controladores de tráfego aéreo
e pilotos. Fonte: Bahia Notícias.