O colunista Gilberto Amaral,
do Jornal de Brasília, foi suspenso por sete dias após a repercussão de uma
nota considerada machista, que foi ao ar na segunda-feira (16).
A publicação, com o título
“Feministas”, afirmava que a beleza de Marcela, esposa do presidente interino
Michel Temer, já era o suficiente para representar “o charme e a elegância da
mulher brasileira”.
O comentário de Amaral surgiu depois
que o governo foi criticado pela falta de diversidade na formação dos
ministérios, que não possuem nenhuma mulher no comando. As declarações do
colunista viralizaram na internet e renderam uma enxurrada de comentários
acusando o veículo de misoginia.
CONFIRA A NOTA COMPLETA DO JORNAL DE
BRASÍLIA QUE SE RETRATOU COM OS LEITORES
Foi uma vergonha. Nenhuma
palavra de desculpa pode minimizar a intensidade com que uma nota publicada
hoje pelo Jornal de Brasília afetou cada uma das mulheres do nosso Brasil. Aqui
lidamos com palavras que podem ter a mesma força que uma imagem exibida na
televisão. Nós vimos isso. Sentimos isso.
Eu sei disso. Vivo isso. Ninguém liga
se o trabalho é feito sem maquiagem, com o cabelo bagunçado ou de tênis. Ou não
deveriam ligar. O que deve importar é o trabalho, a competência, o que é
publicado diariamente nas linhas do impresso que persiste, apesar dos golpes
das diversas crises. E o que foi publicado me envergonhou como mulher, como
profissional, como brasileira.
Escrevo aqui em primeira pessoa para
demonstrar, em nome das mulheres da redação, a indignação, a revolta e a
tristeza com um pensamento misógino que saiu no próprio veículo em que trabalho
e que escancarou falhas. Falhas de conceituação, de responsabilidade e de
empatia. Jamais deveria ter sido publicado.
A vergonha foi tanta que, por
momentos, ficamos sem reação. O erro estava claro e estampado na página 14 da
edição impressa desta segunda-feira, 16 de maio, que logo espalhou indignação
pelas redes sociais – local mais que apropriado e democrático para confirmar o
pecado. Fomos bombardeados e concordamos com quase todos os questionamentos.
Acho que, ao fim do dia, teremos várias lições.
Como jornalistas, compreendemos que
erros devem ser admitidos. Como mulheres, que temos força para questionar
retrocessos e para lutar por espaço e direitos. Como cidadãos, que a democracia
só existirá por completo quando houver representação feminina em todos os
âmbitos da sociedade. Ainda não passamos da ponta do iceberg do problema.
Marcela Temer é linda, sim. Mas,
sozinha, não representa a mulher brasileira. A mulher brasileira não tem um
perfil. Tem vários. São várias. Somos várias. Por muito tempo, nós ficamos
presas a exatamente esse mesmo tipo de visão exposta de forma vergonhosa hoje.
Mas lutamos todos os dias contra essa maré. Conquistamos, mais do que tudo,
poder de escolha. E escolhemos não nos submeter a um pensamento retrógrado que
reduz a feminilidade apenas ao conceito de beleza. Somos mais do que isso.
Jéssica Antunes, em nome de todas as
mulheres do Jornal de Brasília
Fonte:
Pragmatismo Político.
OPINIÃO DO BLOG: Escrever e/ou falar atualmente exige muita cautela por parte de quem o faz, pois pode haver sempre quem se ache ofendido após a interpretação da fala ou do texto a que se teve ou tenha acesso. Isso está realmente causando muita preocupação a quem escreve, principalmente, pois não são poucas as pessoas que têm entrado na Justiça com processos por se acharem discriminadas.
Se o juiz não entender que houve ofensa ou discriminação, menos mal para quem foi interpretado, entretanto ficou-lhe a lição de pensar mais para poder se expressar, além do desconforto de se ver ali, sob certa ou grande tensão uma vez que desconhece totalmente a interpretação do magistrado, até a sua pronúncia.