Vários
retrocessos vieram junto com o governo interino desde o primeiro dia. Um
ministério do tempo do Brasil Império – só homens de bens e brancos, sem
negros, mulheres e indígenas –, o anúncio do corte na saúde, na educação,
encolhimento do SUS, desvinculação do salário dos aposentados em relação ao
salário mínimo, eliminação do MinC, daí prá frente.
Dentre
esses retrocessos os que mais impactam o Semiárido estão o da educação, saúde e
a desvinculação do salário mínimo, do qual dependem aproximadamente 100 milhões
de brasileiros.
Porém,
há retrocessos que o Brasil em geral não vê, a não ser nós que moramos por
aqui, na busca de vida melhor para a população nordestina que sempre esteve à
margem dos avanços brasileiros.
O
paradigma da “convivência com o Semiárido” ganhou carne com o programa “Um
Milhão de Cisternas” (P1MC) e o “Programa Uma Terra e Duas Águas” (P1+2), da
ASA (Articulação do Semiárido). O primeiro visando a captação da água de chuva
para beber e o segundo, para produzir.
Em
aproximadamente 15 anos, um milhão de famílias receberam a cisterna para beber
e cerca de 160 mil famílias, uma segunda tecnologia para produzir. É lindo, até
emocionante, quando em plena seca vemos espaços tomados de verde com hortaliças
ao redor de uma cisterna de produção. Essas tecnologias ainda teriam que ser
replicadas ao milhões para garantir a água para beber e produzir, ofertada
gratuitamente pelo ciclo das chuvas.
Junto
com esses programas, veio a expansão da infraestrutura social da energia,
adutoras simples, telefonia, internet, melhoria nas habitações rurais, estradas
etc.
A
valorização do salário mínimo e o Bolsa Família injetaram dinheiro vivo nos
pequenos municípios, movimentando o comércio local, o maior beneficiário desses
programas.
Houve
também contradições profundas, como a opção pela mega obra da Transposição de
Águas do São Francisco, ao contrário de adutoras simples, e a implantação das
cisternas de plástico por Dilma no seu último governo. Além do mais, ela estava
encerrando o programa de cisternas para beber, alegando que já tinha atingido o
número de famílias necessitadas.
Detalhe:
o ministro para o qual ela liberou as cisternas de plástico orientou o filho a
votar pelo impeachment na Câmara dos Deputados e é agora o ministro das Minas e
Energia.
Mas
esse avanço pressupôs a organização da sociedade civil articulada na ASA e a
chegada ao poder de governos estaduais menos coronelísticos e corruptos. Sobretudo,
supôs o apoio do governo federal a esses programas da sociedade civil.
Acabou.
Se perguntarem ao atual presidente onde fica o Semiárido Brasileiro, é provável
que ele diga que fica no Marrocos. Como não tem base na região, vai entrar
pelas mãos dos velhos coronéis ou de seus descendentes.
Não
é possível destruir a infraestrutura construída. Ela tornou o Semiárido melhor,
sem fome, sem sede, sem migrações, sem mortalidade infantil. Mas, há muito
ainda a ser construído para não haver mais retorno ao ponto da miséria. Uma das
ações é a geração de energia solar de forma descentralizada, a partir das
casas. Dilma não quis dar esse passo.
Os
velhos problemas poderão voltar? No que depender das políticas públicas
federais, sem dúvida nenhuma. Quem está no poder não enxerga o Semiárido.
Tempos
estranhos, quando setores da sociedade brasileira preferem retroceder aos
tempos da miséria total e parte da população se alegra com esses retrocessos. Fonte:
Pragmatismo Político.