Ex-presidente
da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse à
Justiça Eleitoral que o PMDB recebeu recursos pelas obras da usina de Belo
Monte, no Pará.
O
ex-executivo afirmou que se recorda de ter sido o senador Edison Lobão
(PMDB-MA) a pessoa para quem os valores vinculados à obra deveriam ser
destinados. Ele cita também um "deputado ou ex-deputado" do Pará. BJ
prestou depoimento no dia 2 de março, ao ministro Herman Benjamin (TSE),
relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2014.
A
reportagem teve acesso à integra do depoimento.
O
executivo relatou que o partido de Temer foi o único a receber do esquema de
Belo Monte por causa de um veto ao PT feito, segundo ele, por Marcelo
Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo.
"Quando
recebi o projeto, foi-me informado que havia alguns compromissos assumidos lá
na partida. E esses compromissos estavam destinados a dois partidos, sendo que
um dos partidos... havia uma orientação de Marcelo de que não deveríamos fazer
as contribuições - era o PT. E o PMDB tinha as pessoas que tratavam lá com os
executivos anteriores a mim. O que conheço do assunto é isso. Não houve nada ao
PT especificamente feito por Belo Monte por orientação do próprio
Marcelo", declarou.
O relator
então perguntou: "Mas em relação ao PMDB houve"?. "Houve e está
no relato das pessoas", respondeu BJ.
Questionado
sobre os nomes envolvidos no recebimento do dinheiro, ele respondeu: "Se
não me engano, foi combinado através do doutor Edison Lobão e teve um outro, um
deputado ou um ex-deputado que posteriormente ao doutor Edison Lobão foi quem
recebeu em nome do PMDB - um deputado do Pará. Essas foram as duas pessoas
cujos nomes eu ouvi, doutor".
Lobão
hoje é presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que
articula acelerar a votação de um projeto de abuso de autoridade.
"Eu
afirmei - tenho quase certeza - que não foi pago nada pro PT por Belo Monte. O
PMDB era uma conta específica da obra, uma despesa que foi combinada e debitada
a obra", disse Benedicto Júnior.
A Polícia
Federal, em setembro do ano passado, já apontava indícios de que o PMDB e
quatro senadores do partido receberam propina das empresas que construíram a
usina de Belo Monte, no Pará, por meio de doações legais, segundo relatório que
integra inquérito no Supremo Tribunal Federal.
O
relatório da PF junta essa versão com informações de outro delator, o
ex-senador Delcídio do Amaral, de que senadores peemedebistas comandavam
esquemas de desvios de empresas do setor elétrico: Renan Calheiros (AL),
presidente do Senado, Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp
(RO). O ministro Herman Benjamin perguntou a Benedicto Júnior se algum
pagamento de Belo Monte foi realizado naquele ano.
"Eu
acho que houve pagamentos em 2014 para o PMDB, mas não tenho certeza porque não
li o relato. Eu tenho quase certeza de que foi feito. Por isso acho que há um
ex-deputado que foi a pessoa que procurou o meu executivo, levado por um
executivo da Andrade Gutierrez", disse.
Questionado
se lembrava se a campanha era estadual ou presidencial, BJ disse que não
lembrava.
"Nós
nunca fizemos um pagamento em cima do percentual [do valor das obras]",
disse o ex-executivo. Segundo depoimento do ex-executivo da Odebrecht, os
valores seriam pagos pelo departamento de Operações Estruturadas, área de
pagamentos de propina do grupo.
A
construção de Belo Monte foi feita por um consórcio. Os participantes são:
Andrade Gutierrez (18%), Odebrecht (16%), Camargo Corrêa (16%), Queiroz Galvão
(11,5%), OAS (11,5%), Contern (10%), Galvão (10%), Serveng (3%), J. Malucelli
(2%) e Cetenco (2%).
OUTRO LADO. O advogado de Lobão, Antonio
Carlos de Almeida Castro, refuta as acusações do delator.
"Tenho
denunciado os vazamentos criminosos e dirigidos. Eles têm que ser investigados,
a defesa não conhece o teor das delações logo não pode saber o contexto do que
foi dito. No caso concreto dar valor a 'ouvir dizer' e a 'salvo engano' é desmoralizar
o instituto da delação. Por sinal o MP tem se esmerado em desacreditar as
delações", disse.
"A
fragilidade das delações é de tal monta que o recall virou a regra. Ou seja o
delator pode mentir, omitir, proteger e se for pego terá a chance, ate, de
mentir de novo", afirmou. Com informações da Folhapress. Fonte:
Notícias ao Minuto.