Texto de Aderaldo Luciano
O
engenho de Aluísio fica vizinho à antiga propriedade do Pe. Maia, em Areia.
Aluísio era um galego desses que encontramos pelo brejo, olho aceso, herói
verdadeiro, terror dos meninos que, como eu, adentravam seu território sem
pedir licença. Nós o respeitávamos como a uma entidade guardiã das matas e
capoeiras. Seu engenho ainda está de pé e funciona sazonalmente.
A
moenda está em dia, parecendo uma escultura da pós-modernidade. Essas rodas
moveram o mundo brejeiro em certo tempo. Fizeram a
vida girar, fizeram a vida voltar ao ponto de partida a cada volta. As tachas
de ferro, da maior à menor, iam fervendo a garapa, o caldo da cana, até que, na
última e menor delas, se formava o mel, o melado, grosso e escurecido, cheiroso
e doce, mas carregado de suor.
Dessa
tacha menor, o mel era levado para uma outra tacha, fria. Alguém de braço forte
e ágil deveria trabalhá-lo com uma espátula, em giros rápidos, cobrindo e
recobrindo, molhando a mesma espátula na água para não grudar. À medida que
esfriava, o mel ia tomando uma textura mais pastosa. Antes de endurecer era
deitado nas tábuas de rapadura, formas de madeira, onde, descansado,
transformava-se em rapadura. Foi a rapadura nossa maior guloseima, nossa mais
antiga paixão.
As
noites foram sempre agitadas nos engenhos, o serão, as conversas de
assombração, as visagens, os malassombros, todo o fio da "puxa"
estava recheado dessas reinações. A noite foi mais forte e o breu mais agudo. Nascemos,
nós do brejo, rodeados pela história dos engenhos, ladeados por engenhos
fazendo história, acompanhados pela triste história de homens cujos suores
adoçaram o fel de nossas vidas. Fonte: Facebook de Aderaldo Luciano.