Por Nonato
Nunes.
Nesse
final de semana, em meio a uma pesquisa que venho desenvolvendo sobre os fatos
de 1930 para a composição de um futuro livro, fiz uma breve pausa para fazer
uma releitura do livro “Estrela – O parque do prazer” [edição de 2010], do
guarabirense Josélio Fideles de Souza. De cara o leitor observa que nas páginas
do livro de Josélio há lições de uma sociologia que remonta há séculos e
séculos, pois, segundo os mais sábios, “Não há
profissão mais antiga no planeta” [a de ladrão também é dos tempos do Capitão
Caverna...]. Pois bem. Quem observar com atenção, na capa do livro existe uma
sentença [ver destaque] a qual, no meu entender, contém inúmeras verdades.
Procurei, no mesmo livro, o autor da emblemática sentença, já que aparece entre
aspas, mas, infelizmente, não obtive sucesso. A frase é de uma verdade a qual,
se não é absoluta, ao menos se aproxima disso.
O certo é que em poucas palavras o autor da sentença definiu o
que os estudiosos do comportamento humano levaram anos e anos para dizer
justamente isto: “No dia em que os cabarés deixarem de existir, a prostituição
entrará pela porta dos nossos lares e arrancará muitas de nossas crianças.”
Simplesmente, perfeito! O que se vê hoje é o resultado prático de graves
mudanças nas relações sociais causadas, exatamente, pela extinção [ou quase
isso...] de uma profissão que funcionava como uma espécie de “barreira moral”
contra a expansão das promiscuidades inerentes a cada ser humano. Quero dizer
que enquanto as coisas funcionaram em locais e ambientes confinados houve, sim,
o refreamento de perversões ou de “comportamentos pervertidos”.
Com a extinção dos cabarés, em praticamente todo o país, foram
derrubados os “muros de contenção moral” os quais, como já foi dito,
funcionavam como uma divisória quase que “intransponível”; responsável por
resguardar “a moral e os bons costumes”. Fideles identificou [e com acerto], na
proliferação dos motéis e pousadas, a consequência mais imediata resultante da
extinção dos cabarés. Para estes se dirigiam as moças que haviam “se perdido”
na vida e eram expulsas de suas casas.
Ali ficariam confinadas – algumas, por anos a fio. Já os motéis
possibilitaram a que casais de jovens, ávidos pela sonhada “liberdade sexual”,
pudessem entrar e sair deles sem o temor de serem descobertos. E após o frenesi
de suas estripulias sexuais podiam retornar aos seus lares como se tivessem
vindo de uma cerimônia de batismo...
Li, no livro de Josélio, que até as 23 horas, as prostitutas do
Estrela estavam proibidas de circular pelas ruas centrais de Guarabira. Esse
“muro moral” logo seria derrubado...
Resumindo: em nome dos “bons costumes” a sociedade brasileira
simplesmente fechou os cabarés; em compensação abriu as portas de sua casa
àquilo que mais condenava.
E o resultado dessa troca estamos vendo hoje...
Um abraço.