A presidente Dilma Rousseff admite, nos bastidores,
a possibilidade de defender a proposta que prevê a convocação de eleições
presidenciais para encurtar em dois anos o seu mandato, mas ainda avalia o melhor
momento de assumir a estratégia. Ministros próximos a Dilma dizem que isso já é
"fato consumado" porque ela não terá governabilidade com o País
dividido, mesmo se não sofrer impeachment no julgamento final do Senado.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se
nesta segunda-feira com Dilma e tratou do assunto. Pela primeira vez desde que
teve a nomeação suspensa para a Casa Civil, há 41 dias, Lula foi ao Palácio do
Planalto. À noite, jantou com Dilma e com ministros, no Alvorada. Para Lula, porém,
a hora é de concentrar esforços no movimento de resistência ao impeachment.
A ideia de novas eleições conta com o apoio da
maioria do PT e até do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que há
anos trava disputa com o vice-presidente Michel Temer sobre os rumos do PMDB.
Até recentemente, Dilma resistia a aceitar a abreviação do seu mandato, mas,
segundo auxiliares, começou a perceber que precisa fazer um gesto de
"pacificação". Ela descarta a renúncia, mas acha que a proposta de
eleições diretas pode ser uma contraofensiva ao que chama de "golpe".
Em conversas reservadas, ministros do PT argumentam
que o plano, por si só, tem o condão de pôr Temer contra a parede. Além disso
tudo será feito para atrair o PSDB do senador Aécio Neves (MG), que quer vetar
a participação de integrantes de seu partido em eventual governo Temer.
Apesar de manter o discurso oficial de que é
possível virar o jogo do impeachment, senadores do PT e de partidos da base
aliada do governo dão como certa a aprovação do afastamento de Dilma na
primeira votação, no plenário do Senado, prevista agora para 15 de maio. Se
este cenário for confirmado, a presidente será obrigada a se afastar por até
180 dias.
PEC. Pelo cronograma traçado em gabinetes do Palácio
do Planalto, o envio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) ao Congresso,
sugerindo eleições presidenciais em outubro - mês das disputas pelas
Prefeituras -, ocorreria justamente nesse período. A PEC precisa ser votada em
dois turnos em cada Casa do Congresso e só é aprovada se obtiver três quintos
dos votos dos deputados (308) e dos senadores (49).
"Vou lutar até que eleições diretas sejam
realizadas, se eu for afastada do cargo, uma situação hipotética, que eu não
acredito. Eu acredito que é desconfortável afastar uma pessoa inocente. Eu sou
vítima de uma conspiração", afirmou Dilma, em entrevista ao Wall Street
Journal.
Para Lula, se a presidente for mesmo afastada, a
chance de ela retornar ao Planalto é remota. Mesmo assim, a estratégia consiste
em infernizar a vida de Temer durante o provável "exílio" de Dilma,
para expor as "fragilidades" do peemedebista e montar uma espécie de
"governo paralelo", em oposição ao novo ocupante do Planalto.
A ordem é resistir até o julgamento final no Senado
- que pode ocorrer em setembro -, entremeando a defesa política com recursos ao
Supremo Tribunal Federal. "Se Temer assumir, ele não dura três meses no
cargo porque não aceitaremos isso. Haverá protestos em todo o País",
insistiu o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). "Nós não imaginamos que o PT
queira exercitar a sua capacidade de fazer oposição fora da luta política
convencional" provocou o ex-ministro Eliseu Padilha (PMDB), aliado de
Temer.
De qualquer forma, o PT também já prepara uma
narrativa para disputar a eleição presidencial de 2018. Embora seja alvo da
Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e esteja na mira do Ministério Público,
Lula ainda é o único nome do PT com potencial para concorrer à sucessão de
Dilma.
Nas fileiras do partido há quem diga que, com a crise
se agravando a cada dia, o impeachment da presidente pode representar a
"salvação" de Lula. O raciocínio é que, se isso não ocorrer, ela
continuará "sangrando" até 2018. Se sair antes, porém, o PT poderá
usar o discurso do "golpe" e de que teve uma presidente "apeada
do poder". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Fonte:
Diário de Pernambuco.