O vice-presidente Michel Temer
descarta aumentar impostos em vigor e também rejeita criar um tributo nos
mesmos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação
Financeira (CPMF), se assumir a Presidência da República.
Em conversas com alguns de seus principais conselheiros, o vice avaliou
que, com a economia em recessão, o País não tem como suportar essa carga agora.
A estratégia para fechar as
contas públicas numa eventual gestão de Temer passa pelo corte de gastos
públicos e reformas estruturais, a exemplo das mudanças sugeridas para a
Previdência. A solução tem o apoio do ex-presidente do Banco Central
Henrique Meirelles, com quem Temer conversou no sábado, e do ex-ministro
da Fazenda Delfim Netto, que se reuniu com ele na semana passada.
Domingo foi a vez
do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo
Skaf, se encontrar com Temer, no Palácio do Jaburu, para entregar uma
proposta de ajuste fiscal sem aumento de impostos, com enfoque no
corte de gastos públicos e na melhoria da gestão. A reunião durou seis
horas. Na saída, Skaf afirmou que, embora o objetivo da visita não fosse
"colher compromissos", Temer concordou com a visão de que o aumento
da carga tributária acabaria agravando a crise econômica.
"Numa situação como essa,
em que os serviços públicos são de má qualidade, de escândalos de corrupção, o
governo não deveria ter essa moral de pedir à sociedade mais impostos",
afirmou Skaf. "Tem que mostrar serviço primeiro. Tem que dar o
exemplo, cortar desperdício, cortar gastos, acertar as contas dentro do
orçamento. A partir daí, com a retomada do crescimento, a arrecadação de
impostos aumentará naturalmente."
A Fiesp é responsável pela
campanha "Não vou pagar o pato", contra o aumento de tributos, e
esteve presente no apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. A
campanha nasceu em setembro de 2015, contra a reedição da CPMF. A entidade
não revela o valor da campanha, financiada em parte com recursos públicos.
ARRECADAÇÃO. Filiado ao
PMDB, Skaf agora desponta como conselheiro de Temer e disse ontem que não
apoiará, "em hipótese nenhuma", a volta do tributo ou a criação de
outro imposto. "Há, sim, formas de se ajustar as contas, sem aumento
de impostos, sem prejuízo dos programas sociais. Há muito desperdício,
muito gasto que pode ser evitado", afirmou.
Estudos da Fiesp mostram que a
cada um ponto porcentual de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), a
arrecadação aumenta 1,5. Skaf disse que não conversou com o vice sobre a
formação do Ministério, caso o impeachment da presidente seja aprovado no
Senado. Meirelles foi sondado no sábado por Temer para comandar a
Fazenda. Embora oficialmente negue a sondagem, Meirelles disse
a Temer que pode aceitar a tarefa, desde que tenha carta branca para
comandar a área econômica, sem ingerências políticas.
A exigência prevê que a
escolha de nomes para o Ministério do Planejamento, Banco Central, Caixa
Econômica Federal, Banco do Brasil e até Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) passe pelo seu crivo.
Temer e Meirelles combinaram
de voltar a conversar em meados de maio, após o julgamento do processo de
impeachment no plenário do Senado. Fonte: Correio do Povo.