247 – Justiça
seja feita: o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem muito mais responsabilidade
pela situação atual da política brasileira do que o vice-presidente Michel
Temer. Foi Aécio, ao não aceitar o resultado das urnas, aliando-se a Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), quem criou as condições para um impeachment sem crime de responsabilidade,
que poderá manchar para sempre a história do Brasil. Temer é apenas seu
beneficiário.
No entanto, embora tenha sido
o motor da crise, Aécio será tragado por ela. Caso Temer consiga efetivamente
chegar ao poder pela via indireta, ele será o candidato natural do capital à
sua própria sucessão, em 2018, tomando um lugar antes ocupado pelos candidatos
do PSDB.
Primeiro, porque o projeto
Temer tem hoje o apoio de banqueiros e setores industriais, incluindo a CNI e a
Fiesp, sem falar nos grupos de comunicação familiares, que estão engajados no
golpe desde a posse da presidente Dilma Rousseff. Além disso, o vice deve se
beneficiar de uma rápida recuperação da economia, caso demonstre capacidade de
estabilizar a política – só nos últimos dois dias, nada menos que US$ 13
bilhões foram comprados pelo Banco Central para impedir uma queda maior do
dólar.
Ou seja: em pouco tempo, a
valorização do real poderá trazer para baixo a inflação e criar condições de
bem-estar para a classe média, que voltaria a fazer compras em Miami.
Fim da reeleição?
Em entrevista publicada ontem no jornal Valor Econômico, o senador Aécio Neves
afirmou que o vice Michel Temer se comprometeu a encaminhar ao Congresso uma
emenda propondo o fim da reeleição. No entanto, mesmo que o faça, nada indica
que a medida, que não interessa nem a prefeitos, nem a governadores, seria
aprovada.
Além disso, um Temer, que
chegasse ao poder com a mancha da ilegitimidade, faria de tudo para reescrever
seu nome na História de forma mais digna, com uma vitória eleitoral.
Temer no poder mata não apenas
o projeto Aécio, como também o projeto Alckmin. Além de ser a aposta atual do
capital, não haveria espaço para dois paulistas em 2018. E se isso não
bastasse, o tucano que terá mais força na nova ordem de poder será o senador
José Serra (PSDB-SP), adversário interno de Aécio e Alckmin na guerra pelo espólio
tucano.
Aécio, que tentou provocar o
impeachment desde o dia da derrota nas eleições presidenciais, sai da crise
como um dos grandes derrotados. Alckmin, que antes dizia que não se pode
derrubar uma presidente por um "motivo fútil" como as pedaladas, também
terá que renunciar às ambições presidenciais.
Ao PSDB, restou o papel de linha auxiliar do
projeto Temer. A esse respeito, leia ainda o artigo do senador Lindbergh Farias
(PT-RJ), sobre a "agonia dos tucanos". Fonte: Brasil 247.