quarta-feira, 6 de junho de 2012

O ROMÂNTICO CANGACEIRO

O ano de 1844 seria celebrizado para a história e o povo do Rio Grande do Norte, com o nascimento de Jesuíno Alves de Melo Calado, nas terras do sítio Tiuiú, no município de Patu, filho de José Alves de Melo Calado e Alexandrina Brilhante de Alencar. Cresceria no seio da família, aprendendo a trabalhar a terra e a cuidar dos animais, que seriam a base da sustentação de todos.

Em 25 dezembro de 1871, aos 27 anos de idade, a sua vida tomaria outro rumo, quando participou de briga de família e assassinou o negro Honorato Limão. A familia do morto conforme afirmação do historiador José Otávio era protegida de influentes famílias rurais do Rio Grande do Norte e Paraíba.

A sua atuação ocorre no período da escravidão e na grande seca de 1877-79, Brilhante atacava comboios condutores de alimentos, enviados pelo governo e que geralmente nunca chegavam aos pobres flagelados, mas aos armazéns de coronéis e políticos da época. Apoderando-se dos gêneros alimentícios, o cangaceiro romântico distribuía-os com os flagelados e diminuía-lhes o sofrimento e a fome. Dessa forma, frustrava os maquiavélicos planos de desonestos potentados.

O seu bando recebeu muitas vezes, famílias completas que entravam no cangaço para garantir a sobrevivência, porque os tempos eram muito difíceis.

Na visão do escritor potiguar Câmara Cascudo, Jesuino Brilhante “foi o cangaceiro gentil-homem, o bandoleiro romântico, espécie matuta de Robin Hood, adorado pela população pobre, defensor dos fracos e dos velhos oprimidos, das moças ultrajadas, das crianças agredidas (...)” Adianta ainda que ele “nunca exigiu dinheiro ou matou para roubar”.

Das ações pelos sertões, Jesuino ganhou destaque quando assaltou a cadeia de Pombal-PB, 1874, para resgatar o seu irmão Lucas. Em 1876, invadiu a cidade de Martins-RN, e cercado pela polícia, rompeu a parede da casa onde estava resistindo e passou para outras casas vizinhas usando o mesmo método. Obteve êxito e se evadiu com os seus homens, enquanto catavam a música “Corujinha”.

Escondia-se na Casa de Pedra, uma caverna na localidade Serra do Lima e era considerada inexpugnável.

Em 1879, na área rural de Águas do Riacho dos Porcos, município de Brejo da Cruz-PB, Jesuino Brilhante sofreu uma emboscada e foi atingido no braço e no peito por tiros de Preto Limão, seu inimigo ferrenho. Agonizando, Jesuino foi conduzido pelos companheiros à localidade Palha e ali faleceu e foi sepultado.

Os seus restos mortais foram resgatados pelo médico Francisco Pinheiro de Almeida, em 1883, quando visitou o seu túmulo e levou-os para a sua residência em Mossoró-RN. Após a morte do médico, o esqueleto de Jesuino foi levado para o Grupo Escolar “30 de Setembro” e em 1924, para a Escola Normal. Finalmente o esqueleto do cangaceiro foi conduzido para ao Museu “Juliano Moreira”, no Rio de Janeiro, integrando-se ao seu acervo. Desapareceu e não se conhece mais o seu paradeiro.

REFERÊNCIA: NONATO, Raimundo, Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico. Fundação Vingt-un Rosado, Mossoró, 2000.