O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras
Nestor Cerveró defendeu, nesta quarta-feira (16), a compra da refinaria de
Pasadena (EUA) e afirmou que “estava perfeitamente enquadrada dentro do
planejamento estratégico da estatal e na agregação de valor ao nosso petróleo”.
Acusado de omitir cláusulas importantes do documento que embasou a aquisição da
refinaria, Cerveró disse que não teve intenção de enganar ninguém.
"Não houve nenhuma intenção de enganar
ninguém. Não há sentido enganar ninguém. A posição [sobre a compra] não é só
minha, mas da diretoria do conselho que aprovou esse projeto. Não existem
decisões individuais. Foi tudo baseado em consultorias e trabalhos técnicos de
mais de um ano”, disse.
Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.
Paulo revelou que a compra da refinaria teve o aval da presidenta Dilma
Rousseff, que na época era ministra-chefe da Casa Civil e do presidenta do
Conselho de Administração da Petrobras. Em resposta, o Planalto divulgou nota
explicando que no documento elaborado por Cerveró sobre o negócio foram
omitidas as cláusulas Marlin e de Put Option que integravam o contrato.
De acordo com o governo, o Conselho de
Administração da estatal só tomou conhecimento da existência das cláusulas em
março de 2008, quando foi consultado sobre a compra da outra metade das ações
da refinaria.
“As cláusulas de saída são definidas pelos dois
lados. Nossos contratos [da Petrobras] sempre têm cláusulas de saída. Não tem
nenhuma relevância. Isto não é um aspecto relevante porque ninguém faz uma
sociedade para sair da sociedade”, avaliou.
A cláusula Put Option obriga uma das partes da
sociedade a comprar a outra em caso de desacordo entre os sócios. Após
desentendimentos sobre investimentos com a belga Astra Oil, sócia no negócio, a
estatal brasileira teve que ficar com toda a refinaria. Já a cláusula Marlin
prevê a garantia à sócia da Petrobras de um lucro de 6,9% ao ano, mesmo que as
condições de mercado sejam adversas.
Dentro dos planos – Ao explicar o negócio fechado
em 2006 para deputados, em audiência conjunta das comissões de Fiscalização
Financeira e Controle, Desenvolvimento Econômico e Relações Exteriores, Cerveró
lembrou ainda que a escolha pelo território norte-americano também foi
analisada pela empresa. "O mercado americano é consumidor voraz
energético. Dos 80 bilhões de barris [de petróleo] consumidos no mundo
[diariamente], 25% são consumidos pelos Estados Unidos”, disse.
“A partir de 2001 as margens de refino dos EUA
explodiram, caracterizando os anos dourados de refino americano”, completou
Cerveró.
Ontem (15), no Senado, a presidenta da Petrobras,
Graça Foster, lembrou que a falha no relatório de Cerveró, foi apresentada em
2006 e o diretor foi então remanejado para o Conselho de Administração da BR
Distribuidora, subsidiária da Petrobras que atua no mercado brasileiro de
distribuição de combustíveis. Ele ocupou o cargo até o mês passado, quando foi
afastado da estatal.
Durante a audiência, deputados voltaram a
reivindicar a vinda de Graça Foster e do ministro de Minas e Energia, Edison
Lobão, para que também respondam questões sobre os negócios da estatal. Os dois
foram convidados a comparecer à Câmara na próxima quarta-feira (23) mas,
segundo parlamentares de oposição, ainda não confirmaram presença.
Fonte: Revista Nordeste