Estudo
publicado por historiadora alemã conta a história dos 764 que driblaram a morte
nas câmaras de gás pulando dos vagões
Na noite de 5 de
novembro de 1943, Leo Bretholz estava preso em um trem que partia de Paris em
direção à Auschwitz. Ao contrário dos 6 milhões de judeus que seriam mortos
pelo nazismo em diversos campos de concentração espalhados pela Europa,
Bertholz escapou do holocausto pois nunca chegaria às câmaras de gás que o
aguardavam na estação final. O judeu de 21 anos foi um dos poucos que
conseguiram, utilizando-se de métodos desesperadores, driblar os guardas
nazistas e saltar dos vagões em movimento. Como Bretholz, outros 763 ousaram
fazer o mesmo, segundo levantamento recentemente publicado por uma historiadora
alemã.
Durante horas, Leo
Bretholz e seu amigo Manfred Silberstein usaram seus casacos como cordas
improvisadas para tentar — em vão — forçar uma abertura entre as barras de
ferro de uma pequena janela na parede do vagão lotado. Olhando para um balde
utilizado pelos prisioneiros como latrina, alguém sugeriu que eles usassem
urina para aumentar a aderência dos suéteres às grades — dessa forma, eles poderiam
torcer as roupas e utilizá-las como torniquetes.
“Tive que lutar para
superar minha sensação de náusea”, rememora Bretholz. “Me abaixei e encharquei
meu pulôver. Tinham pedaços de excremento flutuando ali. Me senti humilhado.
Foi a coisa mais nojenta que tive de fazer”, conta. Mas a tática deu certo e
cedeu uma pequena fresta, espaço suficiente para que os dois se espremessem por
entre as grades da janela e saltassem do trem.
Após passar o resto
da Segunda Guerra Mundial fugindo dos nazistas na Europa, Bretholz viveu até os
93 anos sem aquele número de identificação tatuado no braço que os outros
sobreviventes de Auschwitz carregariam para sempre. Sua morte nos Estados
Unidos, há um mês, coincidiu com o lançamento de um novo levantamento histórico
publicado na Alemanha que contempla 764 histórias de vida semelhantes.
Estudo – Durante quatro anos, a pesquisadora Tanja von
Fransecky conduziu entrevistas e consultou acervos em Israel e na Europa para
compilar seu estudo, intitulado “Jewish Escapes from Deportation Trains” (“Os
judeus que escaparam dos trens de deportação”, em tradução livre).
Em entrevista ao
jornal britânico The
Independent, a historiadora disse ter se espantado com a quantidade
de pessoas que conseguiu o feito. “Sempre achei que esses vagões eram
abarrotados de gente no embarque e simplesmente abertos na chegada sem que
muita coisa pudesse acontecer nesse meio tempo”, diz. A pesquisa mostrou o
contrário: inúmeros prisioneiros judeus protagonizaram cenas dramáticas e
emocionantes para tentar escapar dos trens.
“Eles não disseram
que nós todos seríamos fuzilados se alguém escapasse?”, questionavam os outros
passageiros, assustados com a situação. Além das críticas, a pesquisadora
também afirma que muitos tinham que enfrentar um dilema moral ao optar pela
fuga e ter de deixar parentes e amigos para trás. “É uma das razões pelas quais
muitos sobreviventes mantiveram o silêncio por anos após a guerra”, aponta von
Fransecky.
Fonte: Portal Opera
Mundi