Irmãos do ministro da Agricultura, Neri
Geller, e suspeitos de participarem de um suposto esquema bilionário de fraudes
na concessão de lotes de terras públicas que deveriam ser destinadas à reforma
agrária, os fazendeiros Odair e Milton Geller se entregaram à Polícia Federal
(PF).
Os
dois estão entre os investigados na Operação Terra Prometida,
deflagrada nesta quinta-feira. Outras 39 pessoas, entre servidores do Instituto
Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) e fazendeiros, já foram
presas em caráter preventivo. Onze investigados que tiveram a prisão preventiva
autorizada pela Justiça ainda não foram encontrados. A PF também cumpriu 142
mandados de busca e apreensão e 30 de medidas restritivas. Odair e Milton
Geller estão no Centro de Custódia de Cuiabá, onde prestaram depoimento nesta
sexta-feira.
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A investigação vai continuar. Vamos analisar toda a documentação apreendida.
Novos personagens já começaram a aparecer e pode haver novos desdobramentos da
operação – informou o delegado Hércules Ferreira Sodré, confirmando que o
ministro Neri Geller não é citado na investigação e que não foram encontrados
indícios de que ele mantenha qualquer tipo de vínculo comercial com os irmãos.
Realizada
simultaneamente em dez cidades do Mato Grosso e nos estados do Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, a operação contou com a participação de 222
policiais federais e foi resultado de quatro anos de investigações. Nesse
tempo, a PF afirma ter encontrado indícios de que, servindo-se do poder
econômico e político de que dispõem, fazendeiros e empresários adquiriam
irregularmente por preços baixos ou simplesmente invadiam terras da União
destinadas à reforma agrária, chegando a coagir e ameaçar os reais
beneficiários para que vendessem ou abandonassem suas áreas. Com isso,
promoviam uma “verdadeira reconcentração fundiária” de terras da União.
A
estimativa é que cerca de mil lotes possam ter sido negociados de forma
criminosa pelo grupo, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 1 bilhão aos
cofres públicos. Um desses lotes, segundo o delegado, foi por muito tempo
ocupado pela multinacional do setor de alimentos Bunge, que então o vendeu ao
grupo Fiagril, um dos alvos da Operação Terra Prometida (nome alusivo à
passagem bíblica em que Deus promete terras ao povo). Entre os principais
sócios da Fiagril está o empresário e ex-prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino
Franz, que foi detido ontem.
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Era uma compra e venda de terras dentro dessas áreas da União… O que já sabemos
é que a Bunge explorou um desses lotes por mais de dez anos e, então, o vendeu
a Fiagril – disse o delegado, sem fornecer mais detalhes sobre as suspeitas que
pesam contra outros grandes produtores rurais e empresas do setor agrícola. Os irmãos Geller,
por exemplo, são suspeitos de colocar os lotes adquiridos ilegalmente em nome
de parentes e empregados. A PF chegou a anunciar ontem que ao menos 80
fazendeiros podem estar envolvidos no esquema, que conta também com a
participação de servidores do Incra e de prefeituras.
O
presidente do Incra, Carlos Guedes de Guedes, determinou ontem o afastamento
dos servidores suspeitos de participação nas fraudes. “Para a instituição, é
sempre muito ruim ter servidores arrolados em uma investigação como essa”,
disse Guedes, ao garantir que o instituto já adotou medidas administrativas
para evitar os desvios e garantir que as áreas da reforma agrária sejam
ocupadas exclusivamente por assentados ou agricultores familiares.
A
equipe de reportagem da Agência Brasil ainda
não conseguiu entrar em contato com o advogado dos irmãos Geller.
Fonte: Portal Diário
do Brasi