Há
em Brasília um movimento clandestino que envolve importantes figuras da
República, dos três poderes. Seus participantes não falam sobre seus objetivos
e agem com muito cuidado. Nas reuniões, geralmente à noite, os celulares são
deixados fora da sala. Há extrema cautela nas conversas com jornalistas, para
que nenhuma pista seja involuntariamente dada.
O
que quer o movimento clandestino, do qual participam até ministros de Estado e
de tribunais, é dar à crise política e econômica a solução que convém a seus
participantes: o afastamento da presidente Dilma e a ascensão do
vice-presidente Michel Temer. Que, elegante e inteligente, não participa de
nenhuma conversa nesse sentido. Caso o objetivo dos clandestinos seja atingido,
Temer simplesmente cumprirá sua função constitucional – jamais poderá ser
acusado de ter conspirado em causa própria.
Para
o grupo, Temer na presidência é a melhor alternativa. A convocação de eleições
para presidente, depois do por eles desejado afastamento da presidente,
fatalmente criaria um clima de beligerância política e social ainda maior do
que o já existente. A campanha seria uma guerra e o ambiente econômico seria
inexoravelmente deteriorado. Melhor que Temer assuma. Ele fará a convocação de
um grande pacto contra a crise. Teria imediato apoio de todos os partidos, PMDB
e PSDB à frente, com adesão, no desenho do grupo, do indefinido PSB e até dos
hoje governistas PDT e PSD. Uma grande coalizão, e, como no governo de Itamar
Franco, apenas o PT e partidos menores de esquerda ficariam fora.
A
opção de instaurar o parlamentarismo também não é considerada boa pelos clandestinos.
Dilma continuaria presidente e o primeiro-ministro seria indicado por ela e
aprovado pelo Congresso. Não poderia ser, claro, nem Eduardo Cunha, nem Renan
Calheiros, nem outros com fichas não exatamente limpas. Os partidos teriam de
fazer uma ampla coalizão para mostrar maioria e pressionar a presidente a
escolher quem eles quiserem, mas a luta interna pela indicação poderia colocar
tudo a perder. Sequer o PMDB e o PSDB têm unidade interna. Em vez de
estabilidade, haveria mais instabilidade e o desgaste ainda maior dos
parlamentares perante a população.
O
grupo pró Temer trabalha para que a situação de Dilma se torne cada vez mais
insustentável. A estratégia inclui sabotar o ajuste fiscal proposto pelo
ministro Joaquim Levy, rejeitando no Congresso as medidas que levem a aumento
de receita e corte de gastos e, em sentido contrário, aprovando mais despesas
do governo. Um subproduto dessa ação, no entender dos clandestinos, poderia ser
a renúncia de Levy, criando-se assim mais um problema para a presidente. Quanto
pior, melhor.
O
ponto forte da estratégia, naturalmente, é a exploração ao limite máximo das
acusações de corrupção contra o governo. A tática é fazer com que as denúncias
cheguem o mais perto possível de Dilma e de Lula. Da presidente, para facilitar
sua derrubada. Do ex-presidente, para anular qualquer possibilidade de reação.
Isso não quer dizer que os investigadores da Lava Jato estejam participando do
movimento. Podem desejar o afastamento da presidente, mas não estão na
conspiração.
A
decisão do Tribunal de Contas da União, se contrária ao governo, seria o
empurrão para justificar o impeachment. Para o grupo, o ideal seria que tudo
isso levasse à renúncia de Dilma, para evitar mais comoções. Não é à toa que é
grande a pressão sobre os ministros do TCU, que chegam mesmo a tentativas de
chantagem. Até porque há alguns bem vulneráveis.
Assim,
com ajuda de segmentos da imprensa, está criado o ambiente político para que a
sociedade deseje a queda do governo e apoie os que o sucederem. Os
conspiradores apostam nas manifestações planejadas para 16 de agosto para o
sucesso do movimento.
O
roteiro não é complicado. E está sendo executado. Fonte: Brasil 247.