sábado, 12 de setembro de 2015

“A VIDA PRECISA DE VOCÊS”



Enquanto grande parte da sociedade no mundo se refere a presidiários como escória e os dizem merecedores apenas e tão somente de desprezo e maus tratos, o papa Francisco, do alto da sua sabedoria e elegância religiosa saudou aos encarcerados de uma prisão na cidade de La Plata na Argentina, participantes de curso de escritura, com a frase que abre este texto, ou seja, "A vida precisa de vocês". 

O gesto deve ser entendido como uma demonstração inequívoca de amor pelo próximo, ainda que esse haja tropeçado ou caído durante a caminhada pela vida. Quem está imune ao erro e pode bater no peito seguramente para se afirmar infalível? Ninguém, a história do homem mostra isso em todos os seus momentos.

Muitos haverão de me rebater quando falo do amor ao próximo demonstrado no telefonema do Papa Francisco, e justificarão a sua discórdia alegando que aqueles detentos ofenderam a outros e não à pessoa de quem representa Deus aqui na terra, no entendimento de milhões de religiosos. Não discuto isso, porém, exemplifico que se o Filho do Altíssimo foi assassinado barbaramente – palavras exatas para falar do martírio de Jesus – receberam todos o perdão do Pai e porque não dizer, da Sagrada Família. 

Se todos os pecadores – e pecados terríveis podem ter sido cometidos e não precisaram perder a sua liberdade para se acreditarem recompostos religiosamente – esperam alcançar o reino dos céus através do perdão do Pai, nada mais natural do que a sociedade receber de volta aqueles que pretendam a ela se reintegrar e produzir a partir de então em favor de tantos e tantos outros. No perdão e no estender da mão é que se completa e toma sentido a grande cena do amor e da fraternidade.


O telefonema do Sumo Pontífice muito me chama a atenção até porque por aqui se está vivendo graças ao profícuo trabalho da Diocese de Guarabira através de Dom Lucena, instantes de preparação para o movimento social Grito dos Excluídos. E quem não se acha excluído atualmente no mundo inteiro? E se alguém não levantar a voz em favor deles, de forma despretensiosa e apenas por amor, quem o fará sem se vestir de fariseu, buscando apenas posição e equilíbrio social?

Que outros gestos tão significativos surjam da Igreja que se moderniza e procura na periferia, nos pobres e excluídos a divulgação de um Deus de amor, perdão e fraternidade. Que gestos tão importantes como este do Sumo Pontífice sejam bem acolhidos e seguidos pelos que fazem a Santa Madre Igreja. 

Os excluídos agradecerão de joelhos postos e olhos piedosos voltados aos céus, podem ter certeza.