Enquanto grande parte da sociedade no mundo se
refere a presidiários como escória e os dizem merecedores apenas e tão somente
de desprezo e maus tratos, o papa Francisco, do alto da sua sabedoria e
elegância religiosa saudou aos encarcerados de uma prisão na cidade de La Plata
na Argentina, participantes de curso de escritura, com a frase que abre este
texto, ou seja, "A vida precisa de vocês".
O gesto deve ser entendido como uma demonstração
inequívoca de amor pelo próximo, ainda que esse haja tropeçado ou caído durante
a caminhada pela vida. Quem está imune ao erro e pode bater no peito
seguramente para se afirmar infalível? Ninguém, a história do homem mostra isso
em todos os seus momentos.
Muitos haverão de me rebater quando falo do amor ao
próximo demonstrado no telefonema do Papa Francisco, e justificarão a sua discórdia alegando que aqueles
detentos ofenderam a outros e não à pessoa de quem representa Deus aqui na
terra, no entendimento de milhões de religiosos. Não discuto isso, porém, exemplifico que se
o Filho do Altíssimo foi assassinado barbaramente – palavras exatas para falar
do martírio de Jesus – receberam todos o perdão do Pai e porque não dizer, da
Sagrada Família.
Se todos os pecadores – e pecados terríveis podem
ter sido cometidos e não precisaram perder a sua liberdade para se acreditarem
recompostos religiosamente – esperam alcançar o reino dos céus através do
perdão do Pai, nada mais natural do que a sociedade receber de volta aqueles
que pretendam a ela se reintegrar e produzir a partir de então em favor de
tantos e tantos outros. No perdão e no estender da mão é que se completa e toma
sentido a grande cena do amor e da fraternidade.
O telefonema do Sumo Pontífice muito me chama a atenção até porque por aqui
se está vivendo graças ao profícuo trabalho da Diocese de Guarabira através de
Dom Lucena, instantes de preparação para o movimento social Grito dos Excluídos. E quem não se acha
excluído atualmente no mundo inteiro? E se alguém não levantar a voz em favor
deles, de forma despretensiosa e apenas por amor, quem o fará sem se vestir de
fariseu, buscando apenas posição e equilíbrio social?
Que outros gestos tão significativos surjam da
Igreja que se moderniza e procura na periferia, nos pobres e excluídos a
divulgação de um Deus de amor, perdão e fraternidade. Que gestos tão
importantes como este do Sumo Pontífice sejam bem acolhidos e seguidos pelos
que fazem a Santa Madre Igreja.
Os excluídos agradecerão de joelhos postos e
olhos piedosos voltados aos céus, podem ter certeza.