Camila
Boehm – Repórter da Agência Brasil
A Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) homenageou na noite dessa terça-feira (3) Luiz
Gonzaga de Pinto Gama, reconhecendo-o como advogado. “Há 133 anos, faleceu Luiz
Gama e, após esse período, temos a oportunidade de reescrever a história. Ao
apóstolo negro da Abolição, pelos seus relevantes serviços prestados junto aos
tribunais na libertação dos escravos, a OAB Nacional e a OAB de São Paulo concedem
[a Luiz Gama] o título de advogado”, disse o presidente da OAB, Marcus Vinicius
Furtado Coelho, em cerimônia na Universidade Presbiteriana Macknzie, em São
Paulo.
O baiano Luiz Gama nasceu em 1830, filho de um
português com Luiza Mahin, negra livre que participou de insurreições de
escravos. Gama foi para o Rio de Janeiro aos 10 anos após ser vendido pelo pai
para pagar uma dívida. Sete anos depois, ele conseguiu a libertação e se
transformou em um dos maiores líderes abolicionistas. Em 1869, ao lado de Rui
Barbosa, fundou o jornal Radical Paulistano.
Em 1850, Gama tentou frequentar o curso da
Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, hoje da Universidade de São
Paulo (USP), mas foi impedido por ser negro. Ele frequentou as aulas como
ouvinte e o conhecimento adquirido permitiu que ele atuasse na defesa jurídica
de negros escravos.
Seu tataraneto, Benemar França, 68 anos, recebeu a
homenagem em nome de Luiz Gama. “Trata-se de uma reparação histórica e do
reconhecimento da sua atuação jurídica para a qual foi proibido de se graduar.
Trata-se de uma justíssima homenagem a quem tanto lutou pela liberdade,
igualdade e respeito”, disse o presidente da OAB.
O professor da Faculdade de Direito da Universidade
Presbiteriana Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama, Silvio Luiz de
Almeida, disse que a homenagem é inédita “para alguém que recebe o título de
advogado pós-morte não sendo formado em direito”.
“Luiz Gama não é apenas importante para a história
da comunidade negra brasileira, é, também, para que entendamos dois movimentos
fundamentais para a formação social brasileira e entender para onde caminha o
país. Ele está ligado tanto ao movimento abolicionista, ou seja, a luta contra
a escravidão, como à formação da República”, explicou o professor. “Neste
momento, resgatar a figura de Luiz Gama, é resgatar também a esperança na
construção de um país melhor, de um mundo mais justo e também da luta
antirracista”, acrescentou.
Para seu tataraneto, a homenagem “é um resgate ao
trabalho que Luiz Gama fez na sua luta para libertar escravos”. Ele disse que
seu tataravô estudou por conta própria em bibliotecas. Apesar de ser rejeitado
pela Faculdade de Direito, segundo Benemar, Luiz Gama “conseguiu ser rábula, ou
seja, tinha um documento que o liberava para trabalhar como advogado, só que
sem diploma”. Nessa condição, ele libertou mais de 500 escravos, afirmou. Fonte:
Brasil 247.
