quarta-feira, 18 de junho de 2008

FEIJOADA E CACHAÇA, AS INSEPARÁVEIS

O Aurélio define feijoada como “prato típico nacional, preparado com feijão, em geral preto, toucinho, carne-seca, porco salgado, etc., e, no Norte e no Nordeste, com verduras cozidas”. Essa deliciosa iguaria teria surgido no Brasil Colônia, graças aos escravos negros recolhidos às senzalas, ao final das desumanas jornadas diárias de trabalho nos campos agrícolas ou na própria casa grande dos seus senhores.

Ali, os escravos recebiam consideráveis quantidades de carnes que o paladar dos seus donos não aceitava. Os negros adicionavam essas carnes ao feijão, preparando a “comida da senzala” que futuramente receberia o nome de feijoada, muito procurada por pessoas da sociedade atual. Quem diria?

Em 1888, quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea no Palácio de Cristal, construído nas metalúrgicas francesas, pelo desejo do seu esposo Conde d’Eu, para sediar exposições e festas, na cidade do Rio de Janeiro, distribuiu muitos títulos de liberdade aos escravos que ali se encontravam e a seguir, serviu aos convidados abolicionistas, negros libertos e nobres, uma feijoada apetitosa e saboreada sem nenhuma reclamação.

Desde o século XVII, surgira a cachaça, bebida de larga aceitação pelos comerciantes de escravos na África, produzida pelos alambiques dos nossos engenhos. Esse comércio causou muita preocupação aos representantes da coroa portuguesa que viam decrescer o prestigio do vinho e da bagaceira, principais produtos lusitanos à época.

Dentre quatro escravos negociados em Luanda, um era permutado por cachaça brasileira. Aproximadamente um milhão de negros chegados ao Brasil, já haviam saboreado essa bebida, nos porões dos navios tumbeiros em que eram conduzidos para os portos da Bahia e do Rio de Janeiro.

Quando da movimentação política de 1789, denominada de Inconfidência Mineira, os intelectuais, militares e sacerdotes participantes de reuniões previamente convocadas para definição de estratégias de luta, saboreavam nesses momentos a aguardente brasileira por saberem-na resultante de trabalho escravo.

Tiradentes, antes do enforcamento pedira para ser contemplado com um pouco de “cachaça da terra”, para “molhar a goela”. O sacerdote Domingos Xavier, seu irmão, nas reuniões de conspiração, sempre servia a cachaça produzida nos alambiques do seu próprio engenho.

Os insurretos que se movimentaram em 1817 na chamada Revolução Pernambucana, iniciaram uma campanha de boicote aos artigos portugueses comercializados naquela região e transformaram a aguardente no símbolo maior do movimento nacionalista. O padre João Ribeiro que participou ativamente desse movimento antilusitano, nas reuniões em que se fazia presente, sempre erguia um brinde com a nossa cachaça, em repúdio às bebidas européias.

Tantos séculos depois, a feijoada e a cachaça fazem o maior sucesso junto àqueles que freqüentam as terras brasileiras. Em Guarabira, por volta da década de 1970, se podia degustar esse prato no restaurante de Manu Menezes, no centro da cidade, servida em pequenas panelas de barro. Atualmente, alguns restaurantes como Paraiguara e Hotel Lucena, sempre servem esse típico prato brasileiro, no sistema self-service.