quarta-feira, 24 de novembro de 2010

PRESSA: A INIMIGA DA REDAÇÃO


Artigo do jornalista Nonato Nunes

Achei que eu houvesse entendido mal. Então esperei que a mesma “chamada” fosse repetida. E aí ficou confirmada a construção de uma frase de sentido – no mínimo - duvidoso: “Rômulo Gouveia diz que violência será uma das metas do governador Ricardo Coutinho.” Afinal, qual o real sentido daquela construção? O senhor Ricardo Coutinho vai ou não combater a violência? Ora, se alguém diz que “(....) violência será uma das metas do governador (....)” fica, para o caro “leitornauta”, a preocupante conclusão de que teremos o aumento da violência no Estado se levarmos em consideração a frase da forma como foi construída. Não ficaria melhor esta: “Rômulo Gouveia diz que combate à violência será uma das metas do governador... Bem, entre a primeira e a segunda, claro, fico com a última.

Mas a construção de frases de sentido duvidoso e/ou jocoso já faz parte do “anedotário” da Imprensa brasileira – e não apenas da nossa, diga-se de passagem. Algum tempo atrás li que o extinto Jornal do Brasil, o lendário JB, havia publicado a seguinte manchete: “Brizola diz que não disse o que disse em Lisboa.” Pode ser até que o autor tenha tido um “surto verborrágico”; mesmo assim, porém, é preciso reconhecer que a frase não está errada; ficou apenas, digamos, um tanto jocosa. Mas a lista de frases engraçadas acaba criando uma espécie de “bestiário jornalístico” pelos embaraços que podem causar. Eu me lembro de uma manchete que estava sendo editada na página de política do extinto O Momento. A construção ficou assim: “Geralda é esquema de Braga.” É que o editor da página não dispunha do espaço necessário para construir algo melhor, e se não fosse a perspicácia do editor geral Walter Santos, o jornal iria ficar numa verdadeira “saia-justa”. Na verdade a manchete apenas queria dizer que a senhora Geralda Medeiros (acho que à época deputada estadual) havia aderido ao “esquema político” do senhor Wilson Braga. Ah...bom.

Mas a mais engraçada mesmo me foi contada pelo colega Gilvan de Brito (cineasta, escritor, pesquisador, teatrólogo, compositor etc.). A terrível cacofonia, publicada no jornal O Norte, ficou assim: “Doença ataca gado no sertão.” “Ataca gado” foi o máximo... A impressão que o leitor teve foi a de que o gado foi atacado por um surto de diarréia graças ao “milagre sintático” conseguido pelo autor. A última dessas “preciosidades” da Língua foi publicada na página policial do velho e bom jornal A União. Segundo me contaram a manchete teve esta construção: “Cadáver é encontrado morto em matagal.” Não precisa dizer que a frase simplesmente “mata o morto”.

Esses deslizes de construções frasais, no entanto, devem ser interpretados como “coisas atípicas”. É que uma das exigências da redação jornalística é a velocidade de raciocínio e de escrita, o que contribui, sobremaneira, para aumentar os índices de erros (de revisão ou de impressão). Segundo os especialistas é o jornalismo uma das três categorias profissionais que mais estressam. Eis aí, portanto, razão mais do que suficiente para que construções como as citadas acima venham a público e entrem para o nosso “bestiário jornalístico”.

Mas que são engraçadas... disso não há a menor dúvida. Mas vamos dar um desconto, pois, ao final, ninguém neste mundo é onisciente. Ou você é?

Fonte: protexto.zip.net