terça-feira, 26 de agosto de 2014

LEGADO DE VARGAS PERSISTE 60 ANOS APÓS SUICÍDIO, APONTA HISTORIADOR

Especialista destaca herança getulista na política e na economia. Neste domingo, fez seis décadas que o ex-presidente se matou.
Passadas seis décadas do suicídio do presidente Getúlio Dornelles Vargas, legados do ex-chefe do Executivo ainda continuam vivos na política, na economia e na estrutura social brasileira, aponta o historiador Gunter Axt, doutor em História Social da Universidade de São Paulo (USP). Pressionado por militares e pela oposição a renunciar ao mandato, o presidente que mais tempo ficou à frente do país pôs fim à própria vida, aos 72 anos, com um tiro no coração disparado por um revólver Colt calibre 32.

A morte trágica do líder civil da Revolução de 1930, presidente constitucional, ditador do Estado Novo e um dos principais personagens da política brasileira no século 20 gerou comoção no país em 24 de agosto de 1954 e adiou, por uma década, um golpe de Estado. O suicídio do homem conhecido como “pai dos pobres” foi o desfecho dramático de uma crise política que antecipou o epílogo do segundo governo de Vargas na Presidência da República. 


São espólios da administração getulista, por exemplo, a Petrobras, a Companhia Vale do Rio Doce, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de conquistas sociais como a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o salário mínimo e o voto feminino. Contabilizando-se os dois momentos em que comandou o Palácio do Catete, antiga sede do governo federal, o gaúcho do pequeno município de São Borja, na fronteira do Brasil com a Argentina, ditou os rumos do país ao longo de 19 anos.

Um dos principais estudiosos da trajetória de Vargas, Gunter Axt classifica o controverso ex-presidente como peça-chave para a definição do que chamamos atualmente de “identidade brasileira”. Autor de três livros sobre Getúlio Vargas – além de diversos artigos publicados no Brasil e no exterior –, o historiador afirma que mesmo oriundo de um universo político tradicional – baseado na honra e em costumes machistas e conservadores –, o ex-presidente da República “sempre foi um político moderno” para o seu tempo. “Getúlio propôs perspectivas inovadoras, que um político comum da época dele não teria estabelecido. O legado de Vargas é complexo, se estende por todos os setores da vida nacional, da política à cultura”, observou o especialista.

Segundo Axt, todos os governos que sucederam Vargas – incluindo os presidentes do regime militar (1964-1985) –, apossaram-se, de alguma forma, do estilo ou das práticas políticas e administrativas do principal líder político do país no século passado. “Ele [Getúlio] foi tão complexo que, em qualquer governo, vamos encontrar similitudes com as administrações dele. Na ditadura, os militares romperam com aquela figura do Getúlio ideológico e socialista, mas replicaram o Getúlio nacionalista, que fazia o estado intervir em áreas estratégicas, como na educação”, enfatizou.


Fonte: Café História