sexta-feira, 19 de setembro de 2014

HOMENAGEM PÓSTUMA AO POETA DOS POETAS




Por Lusa Piancó Vilar


Hoje seria o aniversário de 93 anos do Poeta Pedro Amorim, se ainda estivesse entre nós.
Pedro Amorim (Pinçado do Livro Antologia Poética – Retratos do Sertão –
do poeta Marcos Passos)
"Poeta repentista e exímio versejador, Pedro Vieira de Amorim, nasceu na cidade de Desterro/PB. Residiu na cidade de Itapetim-PE durante muitos anos até o final de seus dias. Ainda hoje é admirado pelo poeta que foi e pelo seu jeitão de sertanejo autêntico. Por onde passou e cantou, fez uma legião de fãs e repentistas nordestinos, sendo querido e respeitado por todos eles. Além de excelente improvisador, se fez conhecido pela voz harmoniosa e afinada.
O inesquecível poeta José Rabelo de Vasconcelos assim definiu Pedro Amorim, ao prefaciar o seu livro "O poeta dos vaqueiros."
"Vaqueiro na vida real, tem sido, também, vaqueiro da poesia. Nos seus poemas, sempre deu rédeas a sua imaginação e fez dos versos e das estrofes o rebanho predileto do seu espírito. Rebanho que ele representa com zelo e sensibilidade quando campeia na vastidão infinita no campo da poesia. Seus versos têm a sonoridade do aboio dos vaqueiros e a virilidade da voz do sertão."
Sertão de Parabéns
(Do livro "O poeta dos Vaqueiros" - Pedro Amorim)
O sertão de parabéns
Está em sessenta e três.
A Natureza lembrou-se
Do mundo velho outra vez
E viu que a humanidade
Tá precisando mercês.
Chegou tudo de uma vez:
Relâmpago, chuva e trovão,
Enchendo rio e açude
E fertilizando o chão,
Pra depois vir a fartura
Da nossa alimentação.
O milho, arroz e feijão
Que alimenta a vida humana
E pra o irracional,
A grama, a palha e a cana,
Ervança, malva e capim
Bamburá e jitirana.
A rainha soberana
De tudo é a natureza,
Faz criar a alegria,
Fortuna, paz e beleza,
Pra destruir a tristeza.
Só faz medo, de surpresa,
Chegar a febre no gado.
Se vê fazendeiro triste,
O vaqueiro aperreado
E os carnívoras festejando
Os recantos do cercado.
O mal triste, o quarto inchado,
O mal da ponta, aftosa.
Com febre, o gado não come,
Vai se deitar na melosa,
Vê o inverno e não se alegra,
Vê a fartura e não goza.
Com a febre calamitosa,
Todo animal entristece.
O vaqueiro sofre mais,
Da luta, não se esquece,
E o fazendeiro sente,
Quando o seu gado adoece.
Por toda parte, aparece
Mortandade em criação.
Carcaças desconjuntadas,
Espalhadas pelo chão,
Deixando o pasto perdido;
É de cortar o coração.
É essa situação
Que perturba o fazendeiro.
Vendo ossos espalhados
Por cima do tabuleiro
E o gado fraco morrendo
Atolado em formigueiro.
O vaqueiro sai chorando
Os prantos da amargura.
Salvou o gado da fome,
Talvez, com palma até pura
E, na época do inverno,
Morrer no meio da fartura.

Com o lenço da amargura,
O vaqueiro enxuga o rosto,
Suportando essa tristeza,
Com nervoso e com desgosto,
Vai se vingar na cachaça
Das vaquejadas de agosto."