O
ex-presidente do Uruguai e atual senador, José Pepe Mujica, defendeu o
aperfeiçoamento da democracia e repudiou golpes de Estado no continente. Ele
foi aclamado por cerca de 5 mil pessoas na Concha Acústica da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e cerca de 4 mil acompanharam
na transmissão da Mídia Ninja., durante palestra , na noite de quinta-feira.
Aos
80 anos de idade, o político uruguaio foi intensamente festejado pela plateia,
majoritariamente formada por jovens, que ouviam entre momentos de completo
silêncio ou de palmas entusiasmadas ao discurso de Mujica, marcadamente contra
o materialismo capitalista e a favor da solidariedade humana. Ao ouvir dos
presentes gritos de “não vai ter golpe”, o político uruguaio fez uma
acalorada defesa da democracia.
–
Tenho dificuldade para entender, no momento, o que se passa aqui, porque não me
corresponde. Porém, se tenho que ser claro, aventura com o uniforme dos
milicos, por favor! Golpe de Estado, por favor! Este filme já vimos muitas
vezes na América Latina. Esta democracia não é perfeita, porque nós não somos
perfeitos. Mas temos que defendê-la para melhorá-la, não para sepultá-la –
disse Mujica, e, mais uma vez, ouviu a plateia gritar: “Não
vai ter golpe”.
A
palestra, inicialmente programada para ocorrer no Teatro da Uerj, foi feita no
anfiteatro, ao ar livre, com a colocação de telões em outros espaços do campi,
para comportar todo o público. Mujica ressaltou a importância de os jovens
seguirem com a luta política e defendeu a necessidade de serem solidários uns
com os outros.
–
Meus queridos, ninguém é melhor do que ninguém. Tenho que agradecer a sua
juventude pelas recordações de tantos e tantos estudantes que foram caindo
pelos caminhos de nossa América Latina. Vocês têm que seguir levantando a
bandeira. Na vida temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se
conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem
solidariedade não há civilização.
Um
dos assuntos abordados pelo público, que pôde fazer perguntas ao ex-presidente,
foi a questão da liberação do consumo de maconha no Uruguai, com base em lei
aprovada no seu governo. Mujica fez questão de frisar que nenhum vício é bom,
“exceto o amor”, e explicou porque decidiu tomar tal atitude em seu país.
NARCOTRÁFICO. Mujica defendeu, que a descriminalização das drogas é o
melhor combate ao narcotráfico. O tema está em pauta no Supremo Tribunal
Federal (STF).
–
Iniciamos essa experiência no Uruguai e não sabemos no que vai dar, mas o que
estava sendo feito não dava resultados. O narcotráfico é pior do que a droga. O
que queremos é regularizar o consumo, assegurar que o consumidor possa comprar
uma dose sem ter que recorrer ao narcotráfico – disse o senador.
Durante
seu mandato, de 2010 a 2015, o Uruguai aprovou a descriminalização da maconha,
o casamento homoafetivo e a legalização do aborto.
Mujica
não quis comentar a crise política no Brasil, mas afirmou que o país “tem força
suficiente para superar as dificuldades”. “O problema é que vocês só veem
derrotismo e acham que nada serve. Se teve gente que se equivocou, deve ser
punida, mas vocês têm que seguir em frente.”
A
simplicidade do ex-presidente, que vive sem luxos, é uma das suas
características. Para ele, os políticos devem viver como a maioria do povo e
não como uma minoria privilegiada. “Se você se acostuma a comer na mesa dos
ricos, pensará que é rico. Não há homem grande, há causa grande”, completou
Mujica.
O
ex-presidente uruguaio participou de um encontro com estudantes na Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Fonte: Correio do Brasil.