A contribuição brasileira que será levada à 21ª Conferência das Partes
da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP21), em dezembro, em Paris, foi
considerada em muitos aspectos um avanço por especialistas, que destacaram, no
entanto, que a meta de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 deveria
ser antecipada.
A Pretendida Contribuição
Nacionalmente Determinada, conhecida como INDC, apresentada nesta segunda-feira
pela presidenta Dilma Rousseff na Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, pretende diminuir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até
2025 e em 43% até 2030, tendo 2005 como ano-base. Para isso, o país prevê,
entre outras ações, chegar ao fim do desmatamento ilegal em 2030, restaurar e
reflorestar 12 milhões de hectares, recuperar 15 milhões de hectares de
pastagens degradadas e integrar 5 milhões de hectares de lavoura, pastagem e
pecuária.
Para o pesquisador sênior do
Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam), Paulo Moutinho, a Amazônia já está
sofrendo sérias alterações com áreas atingidas por secas severas. “Não dá para
esperar até 2030 para zerar o desmatamento. O governo sabe que tem condições
para uma antecipação bastante considerável dessa meta. As alterações já ocorrem
na Amazônia devido à combinação de desmatamento com a influência da mudança
climática global. É preciso fazer um esforço com a sociedade de cumprir essa
meta muito antes do que está anunciado”.
O coordenador do Sistema de
Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima,
Tasso Azevedo, disse que a proposta brasileira não contempla a meta de zerar o
desmatamento em outros biomas, como o Cerrado, que vem sofrendo forte
degradação, o que, para ele, é um ponto falho na INDC.
Segundo o diretor de Departamento de
Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Adriano Santhiago, o
governo incluiu apenas a Amazônia na INDC porque o sistema de monitoramento por
imagens de satélite está mais desenvolvido para o bioma. Ele ressaltou que a
meta de zerar o desmatamento pode ser antecipada. “Fizemos uma proposta
ambiciosa mas que dialogasse com a realidade do país”.
“Ainda falta desenvolver o sistema de
monitoramento nos outros biomas. O Cadastro Ambiental Rural vai ajudar no
monitoramento dos outros biomas, estamos com 70% das propriedades já
cadastradas no sistema”, acrescentou Santhiago.
Tasso Azevedo destacou que, no
contexto internacional, a contribuição brasileira é muito importante. “É um
país em desenvolvimento com metas de redução de emissões absolutas. O principal
problema hoje é mover os países para metas absolutas, para poder ter um número
de emissões. O Brasil está puxando a discussão para outro patamar porque
constrange a China, a Índia e outros países a ter que pensar sua INDC de uma
outra maneira”.
Os especialistas participaram na
tarde de hoje do seminário COP 21 em Pauta, promovido pelas organizações Andi e
Climate and Land Use Alliance. Fonte: Diário de Pernambuco.