terça-feira, 29 de setembro de 2015

META DE ZERAR DESMATAMENTO ATÉ 2030 DEVERIA SER ANTECIPADA, DIZ ESPECIALISTA

A contribuição brasileira que será levada à 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima (COP21), em dezembro, em Paris, foi considerada em muitos aspectos um avanço por especialistas, que destacaram, no entanto, que a meta de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030 deveria ser antecipada.

A Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada, conhecida como INDC, apresentada nesta segunda-feira pela presidenta Dilma Rousseff na Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, pretende diminuir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo 2005 como ano-base. Para isso, o país prevê, entre outras ações, chegar ao fim do desmatamento ilegal em 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares, recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e integrar 5 milhões de hectares de lavoura, pastagem e pecuária.

Para o pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam), Paulo Moutinho, a Amazônia já está sofrendo sérias alterações com áreas atingidas por secas severas. “Não dá para esperar até 2030 para zerar o desmatamento. O governo sabe que tem condições para uma antecipação bastante considerável dessa meta. As alterações já ocorrem na Amazônia devido à combinação de desmatamento com a influência da mudança climática global. É preciso fazer um esforço com a sociedade de cumprir essa meta muito antes do que está anunciado”.

O coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, Tasso Azevedo, disse que a proposta brasileira não contempla a meta de zerar o desmatamento em outros biomas, como o Cerrado, que vem sofrendo forte degradação, o que, para ele, é um ponto falho na INDC.

Segundo o diretor de Departamento de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Adriano Santhiago, o governo incluiu apenas a Amazônia na INDC porque o sistema de monitoramento por imagens de satélite está mais desenvolvido para o bioma. Ele ressaltou que a meta de zerar o desmatamento pode ser antecipada. “Fizemos uma proposta ambiciosa mas que dialogasse com a realidade do país”.

“Ainda falta desenvolver o sistema de monitoramento nos outros biomas. O Cadastro Ambiental Rural vai ajudar no monitoramento dos outros biomas, estamos com 70% das propriedades já cadastradas no sistema”, acrescentou Santhiago.

Tasso Azevedo destacou que, no contexto internacional, a contribuição brasileira é muito importante. “É um país em desenvolvimento com metas de redução de emissões absolutas. O principal problema hoje é mover os países para metas absolutas, para poder ter um número de emissões. O Brasil está puxando a discussão para outro patamar porque constrange a China, a Índia e outros países a ter que pensar sua INDC de uma outra maneira”.


Os especialistas participaram na tarde de hoje do seminário COP 21 em Pauta, promovido pelas organizações Andi e Climate and Land Use Alliance. Fonte: Diário de Pernambuco.