Por
Alex Solnik
Colei
na TV Câmara a partir do momento em que Eduardo Cunha entrou em cena. A sessão
de ontem prometia fortes emoções. Havia murmúrios de uma revolta latente. Tudo
poderia acontecer. Nenhum deputado dirigiria a palavra ao presidente. Todos
ficariam de costas para a mesa diretora.
Repudiariam
o presidente que se afoga num mar de lama suíço.
Por
outro lado, comentava-se, Cunha poderia dar o xeque-mate: anunciar ali ao
microfone que finalmente aceitaria o pedido de abertura de impeachment da
presidente enquanto ela estava em viagem à Finlândia!
Servi
uma xícara de café e aumentei o volume da televisão. Prendi a respiração.
Imaginei todas as redações do país em obsequioso silêncio à espera do grande
embate.
A
expectativa – e as apostas na Bolsa de Londres - cresceram depois do bate-boca
transatlântico, de modo que todas as ambulâncias foram postas de plantão.
Provocado
pelos incendiários de sempre, tais como Mendonça Filho, que, doido para ver o
circo pegar fogo, enfileirou conselhos para acelerar o trâmite da degola, Cunha
respondeu de forma blasé que "ia estudar", que "não era o
assunto em pauta", como se não fosse com ele.
Nem
os deputados deram pelota para o noticiário que enlameia Cunha (com a honrosa
exceção dos do PSOL), respeitaram-no o tempo todo, jamais questionaram sua
legitimidade, sempre o chamando de "presidente", nem Cunha colocou um
só graveto de lenha na fogueira do impeachment, muito ao contrário, parecia
estar tentando apagar o fogo nem tão rapidamente que afugentasse a oposição,
nem tão devagar que irritasse a situação.
Certa
vez, Boni me disse, em sua sala de vice-rei da Globo, que os desafetos Roberto
Marinho e Brizola eram no fundo muito parecidos e adotavam o mesmo estilo
chamado "fogo de bosta": "fazem muita espuma, mas o fogo logo se
apaga".
Taí,
fizeram escola.
Fonte: Brasil 247.