PORQUE “PÁSSARO AZUL”
Por
Nonato Nunes
Afinal
de contas o que significa – de verdade – o topônimo “Guarabira”? Esse é um
enigma sobre o qual tenho me debruçado e o objetivo não é outro senão o de
desvendá-lo, recorrendo às fontes as mais diversas.
Pois bem. Cruzando
informações e observando certas particularidades do idioma tupi é que descobri
que os índios usavam palavras distintas para distinguirem “ave” (em tupi
“ua’ra”) de “pássaro” (em tupi “ui’ra”). Quando faziam uso da palavra /ua’ra/ era para dizer que não se tratava de um
“pássaro pequeno”, mas, sim, de uma ave grande. Por exemplo: “Guiratinga”
significa “garça branca grande”. Só que a palavra garça (do latim “gartia”),
nesse caso específico, quer dizer, tão-somente, “pássaro grande branco”: “guira”.
É provável que os índios considerassem a garça como “um pássaro que cresceu
demais”, uma vez que poderiam simplesmente fazer uso da palavra “ua’ra” como
designativo de ave.
Lembrete: algumas consoantes da Língua Portuguesa não
existiam na língua tupi, a exemplo de /r/, /s/, /l/, /f/, e não se conhece
nenhum exemplo de palavra tupi com “d” inicial. É provável que a consoante /g/,
inexistente no tupi, mas que aparece na grafia de Marcgrave, fosse uma
“compensação” fonética extraída do próprio idioma português. Devemos lembrar
que palavras como Araça(G)i e Cuite(G)i deveriam ser grafadas Araça(J)i e
Cuite(J)i.
Diante do exposto, passemos agora para
a grafia “Guarabira”. Como já foi dito no parágrafo anterior, o mapa de Georg
Marcgrave (1610 – 1644) grafa “Guiraobira” para se referir ao chefe que dava
nome à tribo. Vamos encontrar, na dita grafia, a palavra “ui’ra” (pássaro) ao
invés de “ua’ra” (ave), como foi detalhado no parágrafo acima. Veja o que diz,
corretamente, o professor Vanderley de Brito (“Missões na capitania da
Paraíba”, p.83), respeitado tupinólogo paraibano acerca da referida grafia:
“Guirá” (pássaro) e “obi” (azul ou verde), e mais a partícula “yra” que
designaria, conforme o estudioso, o clã ao qual pertencia o chefe. De Brito
defende o significado “Pássaro Azul” ao invés de verde.
A preferência pelo
azul, no antropônimo em questão, se deve mais aos usos e costumes, pois,
erroneamente, se atribuiu ao nome da cidade o significado “garças azuis”. Já
Câmara Cascudo, no seu Novo Dicionário de História do Brasil, p. 171, grafa
“Guiraobi” e traduz por “Pássaro Verde”, contrariando a tradição local que é
pela coloração azul.
Definitivamente, e de acordo com a
etimologia da palavra, o topônimo Guarabira deve ser traduzido por “pássaro
azul”.
E ponto final.
Um abraço.
