segunda-feira, 26 de outubro de 2015

SOBRE GUARABIRA




PORQUE “PÁSSARO AZUL”

Por Nonato Nunes

Afinal de contas o que significa – de verdade – o topônimo “Guarabira”? Esse é um enigma sobre o qual tenho me debruçado e o objetivo não é outro senão o de desvendá-lo, recorrendo às fontes as mais diversas. 

Pois bem. Cruzando informações e observando certas particularidades do idioma tupi é que descobri que os índios usavam palavras distintas para distinguirem “ave” (em tupi “ua’ra”) de “pássaro” (em tupi “ui’ra”). Quando faziam uso da palavra /ua’ra/ era para dizer que não se tratava de um “pássaro pequeno”, mas, sim, de uma ave grande. Por exemplo: “Guiratinga” significa “garça branca grande”. Só que a palavra garça (do latim “gartia”), nesse caso específico, quer dizer, tão-somente, “pássaro grande branco”: “guira”. É provável que os índios considerassem a garça como “um pássaro que cresceu demais”, uma vez que poderiam simplesmente fazer uso da palavra “ua’ra” como designativo de ave. 

Lembrete: algumas consoantes da Língua Portuguesa não existiam na língua tupi, a exemplo de /r/, /s/, /l/, /f/, e não se conhece nenhum exemplo de palavra tupi com “d” inicial. É provável que a consoante /g/, inexistente no tupi, mas que aparece na grafia de Marcgrave, fosse uma “compensação” fonética extraída do próprio idioma português. Devemos lembrar que palavras como Araça(G)i e Cuite(G)i deveriam ser grafadas Araça(J)i e Cuite(J)i. 

Diante do exposto, passemos agora para a grafia “Guarabira”. Como já foi dito no parágrafo anterior, o mapa de Georg Marcgrave (1610 – 1644) grafa “Guiraobira” para se referir ao chefe que dava nome à tribo. Vamos encontrar, na dita grafia, a palavra “ui’ra” (pássaro) ao invés de “ua’ra” (ave), como foi detalhado no parágrafo acima. Veja o que diz, corretamente, o professor Vanderley de Brito (“Missões na capitania da Paraíba”, p.83), respeitado tupinólogo paraibano acerca da referida grafia: “Guirá” (pássaro) e “obi” (azul ou verde), e mais a partícula “yra” que designaria, conforme o estudioso, o clã ao qual pertencia o chefe. De Brito defende o significado “Pássaro Azul” ao invés de verde. 

A preferência pelo azul, no antropônimo em questão, se deve mais aos usos e costumes, pois, erroneamente, se atribuiu ao nome da cidade o significado “garças azuis”. Já Câmara Cascudo, no seu Novo Dicionário de História do Brasil, p. 171, grafa “Guiraobi” e traduz por “Pássaro Verde”, contrariando a tradição local que é pela coloração azul.

Definitivamente, e de acordo com a etimologia da palavra, o topônimo Guarabira deve ser traduzido por “pássaro azul”.

E ponto final.

Um abraço.