Uma manifestação em frente à Vale, no centro do
Rio, reuniu nesta segunda-feira (16) cerca 600 pessoas na estimativa dos
manifestantes e 150 pelos cálculos da Polícia Militar. Eles fizeram uma
concentração nos jardins do Palácio Gustavo Capanema, prédio do Ministério da
Cultura, que fica ao lado da sede da empresa.
Os manifestantes seguiram em caminhada até a porta
da empresa. Usando maquiagem e um plástico marrom que unia dez pessoas, o grupo
encenou o derramamento de lama, que ocorreu após o rompimento, no dia 5 deste
mês, de duas barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela
anglo-australiana BHP Billiton. A onda de lama destruiu Bento Rodrigues,
distrito de Mariana, e chegou a outras regiões de Minas Gerais e do Espírito
Santo.
As pessoas se organizaram pelo Facebook, após o
sociólogo Marcelo Castanhedo publicar uma mensagem marcando o evento para pedir
punição para os responsáveis pela tragédia. “Eu criei o evento junto com uma
amiga e foi tendo adesões de pessoas interessadas”, disse Marcelo.
Na quarta-feira (18), segundo o sociólogo, haverá
uma concentração no Largo de São Francisco, no centro do Rio, para analisar os
efeitos da manifestação de hoje. “O objetivo é criar um âmbito de discussão,
que a gente não sabe se vai ser um fórum, uma articulação para debater a questão
socioambiental com foco na mineração, porque a gente acredita que o problema
não é só a Vale. A Vale é só o começo”, afirmou.
A economista Sandra Quintela, que participou do
ato, disse que é preciso ter mais critério na legislação que trata da
mineração. “Existe uma legislação que está andando, em nível estadual em Minas
Gerais, que flexibiliza ainda mais o licenciamento ambiental, o que é
perigosíssimo. A gente acha que tem que ter mais critério. A mineração é uma
coisa que produz muitos danos, e a gente precisa repensar o que está acima. A
vida ou o lucro”.
No ato, foi lido o manifesto #NãoFoiAcidente em que
os integrantes ressaltaram que o derramamento de milhões de toneladas de lama
tóxica foi um crime e vai levar tempo até que se chegue à dimensão exata dos
danos causados. O texto indica ainda que a tragédia é consequência da falta de
respeito a questões de segurança tanto de trabalhadores como das comunidades
próximas. Pede ainda que o Congresso Nacional discuta mais o Novo Código de
Mineração.
“Está na hora da sociedade civil se organizar em
grupos e propor através de documentos e manifestos que tipo de mineração a
gente aprove ou não”, disse Júlio Barroso, produtor cultural que leu o
manifesto durante a manifestação.
Em nota, a Vale informou que “respeita e valoriza o
direito constitucional de livre manifestação”. A empresa diz ainda que, desde
do dia 5, vem dando total apoio e assistência às equipes envolvidas no resgate
e atendimento às famílias atingidas, nos estados de Minas Gerais e do Espírito
Santo.
“A Vale, mais uma vez, vem expressar que não medirá
esforços para apoiar as ações emergenciais nestas localidades, bem como ajudar
na recuperação ambiental do Rio Doce”, acrescentou.
Por causa da manifestação uma das pistas da Avenida
Graça Aranha, próximo ao prédio da Vale, ficou com o trânsito interrompido. O
policiamento foi feito por 35 policiais militares sob o comandado do major
Dutra. Segundo ele, a presença dos policiais foi para dar segurança aos
participantes do ato. (ABr). Fonte: Jornal do Commercio.