“Quem sofre mais com a precarização do ensino é a
juventude preta e pobre”. A frase é de Andreza Delgado (foto acima), 20,
estudante de Letras e educadora. Na última quinta-feira (3/12), Andreza foi
presa arbitrariamente. Crime: lutar contra o fechamento em série de escolas em
São Paulo.
Em sua conta
no Facebook, após ser liberada pela polícia, em 4 de dezembro, a jovem relatou
a violência – sempre aliada ao racismo e machismo – que sofreu nos dias encarcerada.
“Fui privada do uso do banheiro, ouvi que eu era uma “macaca”, insinuações de
que um dos estudantes não conseguiam me comer porque eu era cabeluda e
“feminazi”, que iriam buscar uma gilete para minha “buceta”[…] Eles não
conseguiam não transparecer o desejo de “raspar” e “queimar” as minhas
tranças”, relatou.
A educadora,
que estudou toda a sua vida em escolas públicas da cidade, vem apoiando os estudantes
secundaristas desde o princípio das ocupações, pois considera que esta causa
também é dela, enquanto cidadã e mulher negra. “Enquanto mulher negra, essa
luta super me representa e enquanto cidadã também, porque se trata da
precarização do ensino, da educação”.
Para ela, há
um recorte de classe e geográfico muito claro dentro das discussões sobre a
“reorganização” prometida pelo governo, já que quem sofre mais com a
precarização do ensino é a juventude preta e pobre. A educadora aponta, no
entanto, que os estudantes das periferias estão atuando de forma efetiva.
“Costumam estigmatizar a periferia e a achar que a periferia não sabe fazer
luta. A molecada está ocupando e auto-gerindo as escolas, com aulas de
jornalismo, de ioga, horta, estão pintando e reformando as escolas”.
Ela comenta,
ainda, a forma como a “grande mídia” concentra os holofotes nas escolas
localizadas nas regiões centrais, não dando espaço às que estão nas bordas da
cidade. “É mais “confortável” se deslocarem para gravar lá [em Pinheiros/ do
que para o centro de Diadema, Mauá (localizados na Grande SP), que também tem
escola ocupada, ou para o Campo Limpo ou Capão Redondo (zona sul da capital de
SP)”.
“Existe uma
disposição do estado para tratar as pessoas pretas e pobres de outra forma. Se
eu fosse uma estudante da Universidade de São Paulo e branca, a polícia nunca
ia me apalpar e dizer que ia cortar minhas tranças e me chamar de “macaca”.
Existe uma disposição do estado, uma disposição racista de dar esse outro
tratamento. Poxa, eu ainda fui passar por uma CDP (Centro de Detenção
Provisória) e em alguns momentos ainda fui bem tratada, mas tinha gente lá fora
me esperando e me observando. E quem não tem?”, questiona a jovem. Fonte:
Pragmatismo Político.