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Procuradoria-Geral da República (PGR) está prestes a concluir a coleta de
provas suficiente para pedir o afastamento do presidente da Câmara, deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo fonte indicou ao Correio do Brasil,
em condição de anonimato, já há elementos suficientes sobre a ação de Cunha
para impedir o funcionamento da Casa, principalmente, do Conselho de Ética da
Câmara. O procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, investiga as manobras
de Cunha e de seus aliados para adiar a votação sobre a admissibilidade do
processo de cassação do deputado.
Procuradores que atuam nas investigações de
autoridades com foro privilegiado enxergaram no gesto do deputado de aceitar o
pedido de impeachment de Dilma uma tentativa de vincular seu pedido de
afastamento por Rodrigo Janot a um ato pró-governo. Além de apresentar o pedido
de afastamento do líder da Câmara junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), o
procurador estaria prestes a concluir a denúncia contra o deputado por crimes
de evasão de divisas, peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, no
caso das contas bancárias mantidas na Suíça.
Os promotores da PGR também investigam o envolvimento
da família de Cunha nos ilícitos denunciados. Juntos, ele, a mulher a filha são
formalmente acusados de receber e manusear US$ 5 milhões em propina, a partir
de contratos da Petrobras para operação de navios-sonda da Petrobras, no âmbito
da Operação Lava Jato.
Cunha articula. Enquanto não é afastado, Cunha
conseguiu afastar do cargo, ainda nesta quarta-feira, o líder do PMDB, o
deputado Leonardo Picciani (RJ). Cunha, que havia feito campanha para que
Picciani assumisse o posto, articulou para que ele perdesse a posição na
qual negociou com o governo a nomeação de três ministros. Na noite passada,
deputados tinham em mãos as assinaturas de 35 peemedebistas favoráveis à
substituição de Picciani por Leonardo Quintão (MG). A negociação para derrubar
Picciani teve a participação do vice-presidente da República, Michel Temer, e
do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), segundo parlamentares ouvidos pelo
CdB.
Segundo os parlamentares, a destituição do deputado fluminense contou com 40
assinaturas, dos 66 deputados da bancada. Já prevendo a ameaça ao
cargo, Picciani articulou com o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando
Pezão, e o prefeito da capital, Eduardo Paes, a volta à bancada de dois
deputados que eram secretários, Marco Antônio Cabral e Pedro Paulo. Mesmo
assim, os adversários de Picciani asseguram ter assinaturas suficientes para
derrubá-lo.
O ponto definitivo para a queda do líder foi a
escolha da chapa para a comissão do impeachment, favorável ao governo.
Alinhado do Planalto, Picciani não abriu espaço para os parlamentares ligados à
ultradireita, todos favoráveis ao impeachment. Os 16 indicados para a comissão
eram favoráveis à permanência da presidenta da República. A chapa foi
derrotada, em plenário, e os dissidentes peemedebistas que aderiram à chapa 2,
articulada por Cunha e Temer conseguiram a maioria dos votos.
— Ele poderia ter feito um cinco a três. Era
razoável. Estaríamos satisfeitos — diz um dos articuladores do documento que
impõe a troca.
Ministros ficam. Segundo integrantes do PMDB,
Michel Temer teve uma “participação tímida” na escolha do possível substituto
de Picciani. Temer teria recebido o comunicado durante a noite passada, sobre a
movimentação dos insatisfeitos e disse apenas que desejava a unidade da
bancada, o que foi entendido como um sinal verde para a queda de Picciani.
Na última quinta-feira, segundo interlocutores, o próprio Temer teria alertado Picciani da
necessidade de contemplar toda a bancada na distribuição das vagas da comissão,
para garantir a unidade. A escolha de Quintão para sucedê-lo é o cumprimento de
um acordo que havia com o próprio Picciani. Quando foi eleito líder, o deputado
fluminense teve o apoio da bancada mineira para derrotar Lúcio Vieira Lima (BA)
em troca de apoiar Quintão para o cargo em 2016. No mês passado, porém,
Picciani avisou Quintão que desejava continuar na liderança no próximo ano.
A saída de Picciani, porém, não quer dizer que os
ministros indicados por ele devam também deixar o cargo. Celso Pansera (Ciência
e Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde) tendem a permanecer à frente das pastas,
mas os peemedebistas que constroem a destituição do líder, pretende debater
agora na bancada como será a participação no governo.
— Não vai haver rompimento, mas não tem ampliação
de conversa — afirmou um dos articuladores. Fonte: Correio do Brasil.