247 – A narrativa midiática dos próximos dias já está
definida: "o povo se manifestou, exigiu um basta e, agora, o Congresso
Nacional terá que ouvir a voz das ruas". Ou seja, será preciso acelerar a
votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Esse esforço será
liderado, sobretudo, pela Globo que dedicou toda a programação da Globonews,
neste domingo, para ajudar a inflar os protestos espalhados pelas capitais.
Como apêndices, virão jornais e revistas.
A pressão será
intensa e o fato concreto é que, hoje, o governo da presidente Dilma Rousseff
se encontra fragilizado por uma blitz que vem de várias frentes: as delações
premiadas do Paraná, as ambições de poder do PMDB e as costuras que vêm sendo
realizadas com partidos da oposição e da própria base aliada.
No entanto, toda
essa pressão não produziu, ainda, um fato essencial para o impeachment: o crime
de responsabilidade cometido pela presidente Dilma Rousseff em seu segundo
mandato. Até porque só com este elemento seria possível, em tese, levar adiante
um processo de impeachment sem a aparência de golpe.
Não custa lembrar
que o pedido de impeachment foi produzido a partir da tese das pedaladas
fiscais, que não sustenta juridicamente. Em seguida, surgiu a "bomba
atômica" da delação de Delcídio Amaral (PT-MS), já negada pelo próprio
senador. E como bem lembrou a presidente Dilma Rousseff na última sexta-feira,
o simples fato de pedirem sua renúncia demonstra que a oposição não tem
elementos jurídicos para seu impeachment.
Especula-se que,
agora, virão delações de empreiteiros que passaram temporadas em Curitiba.
Fala-se, por exemplo, que Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, maior doadora
de Aécio Neves, dirá que as doações ao PT, mas só ao PT, eram propina. Ainda
assim, se o crime vier a ser comprovado, será de natureza eleitoral – e não
cometido no segundo mandato.
O fato é que, sem
crime de responsabilidade, o eventual impeachment de Dilma será um golpe. Mas
ele só será evitado se o governo conseguir demonstrar capacidade de reação, com
mobilização de movimentos sociais e um discurso convincente contra a reação
oligárquica do sistema político às investigações em curso. Fonte: Brasil 247.