Sim, porque desde que a situação do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se tornou insustentável, diante de inúmeras
acusações de corrupção, setores da oposição, capitaneada pelo senador Aécio
Neves (PSDB-MG), passaram a traçar um novo plano: o de levar adiante o golpe
"limpinho e cheiroso" contra a democracia após a queda de Cunha.
Para quem não se lembra, em 2015, um ano
praticamente perdido para o Brasil, a oposição selou uma aliança indecorosa com
Cunha. Ele, um personagem que se tornou símbolo da corrupção no País, se tornou
o cavaleiro de uma tentativa de derrubada de uma presidente reconhecida como
honesta até por seus adversários.
Mais do que simplesmente apoiar o impeachment, a
oposição também se aliou a Cunha nas chamadas pautas-bomba do Congresso, de
altíssimo custo fiscal para o País. O PSDB, por exemplo, votou pela derrubada
do fator previdenciário, criado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
pelo que veio a se arrepender apenas no início de 2016.
Com Cunha à frente do processo, o impeachment se
desmoralizou completamente. Afinal, como sustentar um discurso moralista se era
Cunha, com suas contas na Suíça, quem conduzia a questão? Além disso, a
sociedade passou a enxergar no impeachment a simples tentativa de vingança por parte
de um parlamentar acossado por denúncias de corrupção.
Diante desse cenário, Aécio Neves passou a pregar
a saída de Cunha da presidência da Câmara como se não tivesse sido um dos seus
maiores aliados – registre-se aqui que a posição de Paulinho da Força (SD-SP)
foi menos cínica. O sindicalista da Força prometeu ser fiel a Cunha até o fim.
Assim como Paulinho, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que entregou o pedido
de impeachment ao presidente da Câmara, também fez o que pôde para manter a
aliança entre os tucanos e o deputado agora réu no Supremo Tribunal Federal por
corrupção e lavagem de dinheiro.
UM NOVO DISCURSO. Como o golpe
com Cunha se tornou inviável, os líderes da oposição passaram a discutir um
novo plano, o de levar adiante o impeachment ou a cassação da chama Dilma-Temer
no Tribunal Superior Eleitoral com outro presidente na Câmara. Cogitava-se, por
exemplo, o nome de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
Uma das razões para essa guinada era o fato de
que, na hipótese de cassação via TSE, Cunha assumiria a presidência por 90
dias, até que convocasse novas eleições presidenciais. O que seria
absolutamente extravagante, como disse o ministro Marco Aurélio Mello, do
Supremo Tribunal Federal.
No entanto, após a queda de Cunha, esse plano
também terá grandes dificuldades para ser levado adiante. O mais provável é que
a presidente Dilma Rousseff recupere, agora, condições mínimas de
governabilidade. E se a oposição tiver algum pingo de responsabilidade com o
País tentará ajudá-la a tirar o País da atual crise em que se encontra. Uma
crise que foi eminentemente política antes de contaminar a economia. Fonte:
Brasil 247.