Os procuradores da República, que atuam sob as ordens do juiz Sergio
Moro, haviam se posicionado de forma contrária ao pedido de devolução do
passaporte por temerem que ela pudesse fugir do país
Por Redação – de Brasília e Curitiba
O juiz federal Sérgio Moro contrariou
a posição do Ministério Público Federal (MPF) e determinou, nesta quinta-feira,
a devolução do passaporte da jornalista Cláudia Cruz, mulher do deputado
afastado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu no Supremo
Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e evasão de divisas, entre
outros crimes. Os dois são réus sob acusação de receberem dinheiro de
propina do esquema da Petrobras em contas não declaradas no exterior.
Os procuradores da República que
atuam na Operação Lava Jato haviam se posicionado de forma contrária ao pedido
de devolução do passaporte por temerem que ela pudesse fugir do país. Para
o MP, porém, existe “real possibilidade” de que ela e outros familiares ainda
tenham contas no exterior e o “risco concreto de eventual fuga e utilização de
ativos secretos ainda não bloqueados”. Segundo Moro, “foi iniciativa da própria
defesa o depósito do passaporte em Juízo”. E “de todo modo, não foi decretado
por este Juízo medida cautelar de proibição para que Cláudia Cordeiro Cruz
deixe o país”.
“Considerando ainda o papel
subsidiário da acusada no suposto esquema criminoso, não vislumbro razões
concretas para estabelecer tal proibição, reputando remota o risco à aplicação
da lei penal especificamente quanto a ela”, destacou o magistrado. “Assim,
autorizo a devolução do passaporte de Cláudia Cordeiro Cruz à Defesa, mediante
termo”, acrescentou Moro.
Moro versus Janot. A atitude do juiz
Sergio Moro de arrefecer o rigor legal contra Cunha e seus cúmplices, enquanto
arrocha os suspeitos que integram o PT, tem gerado uma série de conflitos
velados no Poder Judiciário. Por sua vez, o governo do presidente de facto,
Michel Temer, tem acompanhado de perto a crise entre o MPF e o STF. Chegou ao
conhecimento do grupo que, atualmente, ocupa o Palácio do Planalto, segundo
adiantou fonte à reportagem do Correio do Brasil, que investigadores da Lava
Jato têm, na alça de mira, assessores do ministro Dias Toffoli e de outros dois
magistrados da corte.
Ainda segundo a fonte, procuradores
ligados a Rodrigo Janot, em Brasília, posicionam-se contrários ao grupo de
Curitiba, coordenados por Sergio Moro. O confronto estaria na origem do vazamento
da informação de que Dias Toffoli aparecia nas tratativas de delação premiada
da empreiteira OAS. O grupo de Janot seria contrário à inclusão do nome de
Toffoli na delação, uma vez que informações passadas pela OAS não configurariam
qualquer crime.
Versão dos fatos, que circula por
Curitiba, aponta na direção de que os promotores do MPF, na Lava Jato, não
concordaram que o nome de Toffoli fosse excluído das investigações, na delação
da OAS, porque o ministro tem foro privilegiado, e resolveram vazar para a
revista semanal de ultradireita Veja, que publicou matéria na sua última
edição. Janot, no entanto, trabalharia com a possibilidade de que a empreiteira
tenha divulgado dados. Fonte: Correio do Brasil.