Por Fernando Duarte.
Lá
pelos idos de 2011, quando ainda era um mero aspirante a jornalista, um amigo
cravou em minha mente um ensinamento que deveria ser carregado por todos: você
leva uma vida para construir uma reputação e apenas um ato para destruí-la. Eis
que, como para toda regra há uma exceção, nesta quinta-feira (14), surgiu um
exemplo que nada na vida é tão estanque. Indicada pelo PSDB para a Secretaria
de Direitos Humanos, a baiana Luislinda Valois é uma pessoa que se esforça para
manchar a própria reputação. Ontem, colocou mais um ato no currículo: para
permanecer como ministra, pediu desfiliação do PSDB, que prepara o desembarque
do governo Michel Temer. Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça da
Bahia, a hoje ministra seria facilmente um exemplo a ser seguido por milhares
de jovens, especialmente mulheres negras. De família humilde, como a biografia
dela relata, ascendeu socialmente e profissionalmente ao ponto de chegar ao
posto de desembargadora, algo que a coloca em um seleto grupo de operadores do
Direito que chegam a uma Corte superior. Até se apresentava como a primeira
magistrada negra da Bahia, feito questionado por alguns colegas e depois
desmentido pela imprensa. No currículo, um falso prêmio da ONU, que na verdade
era de uma ONG que apoiava ações da entidade. Se antes de chegar à Esplanada
dos Ministérios Luislinda já errava, ao ascender ao posto desceu a ladeira dos
absurdos. Reclamou que o salário de desembargadora aposentada deveria ser
somado ao de ministra, pois não ter os dois valores era trabalhar de forma
“análoga à escravidão”. Depois pediu o retroativo desse super salário, na cifra
de R$ 300 mil. E, apesar de ser ministra da Secretaria de Direitos Humanos, se
abstém de falar sobre assuntos relevantes da pasta, aparentemente criada para
abrigar uma mulher e uma pessoa negra, numa espécie de cotas de um ministério
sem qualquer diversidade. Ao preferir continuar no cargo em detrimento à
filiação partidária que a alçou ao posto, Luislinda deu mais um passo para que
a própria reputação se tornasse ainda menos briosa, afinal, por mais que os
exemplos digam o contrário, há sempre a expectativa de um mínimo de fidelidade
política. Uma coisa é certa: a resiliência dela não pode ser subestimada. Ela
se esforça para deixar de ser uma inspiração, diante de sucessivos atos que, em
outras sociedades, destruiriam reputações. Este texto integra o comentário
desta sexta-feira (15) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para
as rádios Irecê Líder FM e Clube FM. Fonte: BN –
BAHIA NOTÍCIAS.