Quando
alguém consegue um mandato é danado para o parlamentar achar que tudo pode e
tudo deve, justamente porque lhe cabe a construção de leis que serão submetidas
ao povo, se o prefeito sancionar, é claro, se desse for de competência. No
caso, esses autores de gafes legislativas são salvos pelo gongo, pode-se usar o
termo e escapam do erro.
Nesses
últimos dias, em Campina Grande o vereador Nelson Gomes Filho, pretendendo ser
cuidadoso para com a coisa pública, propôs da tribuna legislativa da Câmara
Municipal dessa cidade, através de requerimento, que a direção do Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), interrompesse imediatamente a
liberação de água para irrigação de todas as áreas beneficiadas pelas águas do
Açude Epitácio Pessoa, também conhecido como Boqueirão, para evitar um colapso
total diante da grande seca vivida pelo Nordeste, e particularmente a Paraíba.
Sabe-se
que a partir de 2007, uma decisão judicial determina que o DNOCS feche as
comportas do Boqueirão, e cesse a liberação de água, toda vez que os índices
volumétricos estejam abaixo da margem de segurança para o abastecimento das
populações que dele vivem. E pelo que se está sabendo, tecnicamente o açude tem
50% de água acumulada e ainda não ameaça prejudicar a população.
Segundo
Blog do Tião Gomes, os parlamentares campinenses foram visitar o açude Epitácio
Pessoa para constatação da situação real e ali encontraram o prefeito de Boqueirão,
João Paulo Segundo (PSD), acompanhado de muitos irrigantes que se dispunham a
não consentir que se proibisse a irrigação das áreas disponíveis à agricultura
e pecuária, conforme sugeriram aqueles representantes do povo campinense. Em
verdade, o açude está com capacidade de 54% de água, não representando, portanto,
nenhuma ameaça ao abastecimento das populações dos municípios que dele utilizam
o precioso líquido através da Cagepa.
É de
se perguntar: não teria sido melhor que os vereadores de Campina tivessem usado
do bom senso e procurassem ver a situação do boqueirão antes de discutir em
plenário a suspensão da irrigação? Teriam evitado o desgaste perante a
população campinense e paraibana e não teriam passado por situação tão
desfavorável. Quiseram mostrar serviço e foram precipitados não há a menor
dúvida.
Compreende-se
até certo ponto que tenham querido socorrer o povo diante de tão grande seca, solicitando
ao DNOCS providências imediatas, porém, manda a prudência que em determinados
casos é preciso se meditar e muito, para não se praticar erros que poderão trazer
desgastes profundos.