Por Hélio Doyle (Jornalista,foi professor da Universidade de Brasília e Secretário
da Casa Civil do governo do Distrito Federal).Doyle é
jornalista, foi professor da Universidade de B
Pergunta que muitos
fazem: o que tem a ver a famosa greve dos caminhoneiros chilenos, em 1972, com
a paralisação de caminhoneiros brasileiros que começa nesta segunda?
Resposta:
tudo a ver, apesar dos anos que as separam. A greve no Chile foi organizada
para desgastar e derrubar o governo de Salvador Allende. Esta agora, no Brasil,
tem como objetivo desgastar e derrubar o governo de Dilma Rousseff. Não é uma
especulação, ou uma interpretação: o objetivo político de tirar Dilma do
governo tem sido anunciado pelos próprios organizadores da paralisação.
Não
é estranho, portanto, que a mobilização de caminhoneiros, que se dizem
independentes de sindicatos e associações da categoria, receba o apoio
declarado de movimentos organizados explicitamente para derrubar o governo.
Tudo muito bem planejado e articulado. As reivindicações específicas que esses
caminhoneiros apresentam são apenas cortina de fumaça. O que interessa mesmo a
eles é enfraquecer ainda mais o governo e facilitar sua queda.
O
que está acontecendo no Congresso Nacional não é, em essência, diferente do que
acontece em algumas rodovias brasileiras. A oposição procura impedir a execução
de medidas que possam contribuir para o enfrentamento da crise econômica,
rejeita aumento de receita e aprova aumento de gastos, em ação também bem
planejada e articulada: tudo tem de ser feito para desgastar o governo, até que
seja derrubado.
Nas
ruas e nas redes sociais, a mesma coisa. Os grupos que acima de qualquer coisa
colocam a derrubada de Dilma radicalizam seus atos e criam, deliberadamente, um
clima de ódio e sectarismo para encostar os adversários políticos na parede.
Até
agora, a estratégia oposicionista está dando certo. O governo foi encurralado
durante todo o ano e, quando mostrou reação, foi com ações equivocadas e
inócuas, achando que o velho fisiologismo iria acalmar os parlamentares e tirar
o Congresso da paralisia e da atuação claramente oposicionista – mesmo quando
executada pelos pretensos aliados.
A
movimentação de caminhoneiros é mais um passo na escalada para chegar ao
impeachment, à cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral ou à renúncia de
Dilma. Se o governo continuar em sua passividade e não enfrentá-la com o vigor
necessário, continuará acuado e sem condições de superar a crise.
Allende
tentou resistir, mas foi derrubado por um golpe militar depois de um intenso
trabalho de desgaste realizado por seus opositores – políticos de direita,
empresários, imprensa, CIA -- e a greve dos caminhoneiros teve um papel muito
importante no processo. Hoje não há condições favoráveis a um golpe militar no
Brasil, mas a estratégia oposicionista é fundamentalmente a mesma: desgaste progressivo
até a solução final, agora revestida de institucionalidade.
A
direita perdeu o governo, mas não perdeu seus aparelhos de estado, e sabe
usá-los para atingir seus objetivos. Fonte:
Brasil 247.