247 - Na conversa gravada pelo
filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, que levou Delcídio do Amaral (PT-MS)
à prisão, o senador demonstra preocupação ao tomar conhecimento de que ele é
relacionado pelo ex-diretor da Petrobras à multinacional francesa Alstom.
Delcídio já havia sido relacionado a recebimento
de propina pela Alstom pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa
como sendo destinatário de propinas da Alstom no período em que foi diretor de
Gás e Energia da Petrobrás, entre 1999 e 2001, no governo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB). Na época, Cerveró era subordinado a Delcídio na diretoria.
Na conversa, Delcídio conta que, em um dos
encontros com o banqueiro André Esteves, que também está preso, viu uma
anotação manuscrita com o nome da empresa e ele na última página do acordo de
delação obtido por Esteves. Costa relatou aos investigadores ter ouvido
dizer que Delcídio teria usado o apagão como justificativa para forçar a
contratação emergencial de turbinas de gás termelétricas da multinacional
francesa Alstom quando era diretor da Petrobras.
"Tem várias anotações e o que me chamou
atenção que eu achei que poderia ser, é... é... é... a letra do Nestor, na
última página dá uma olhada...na última página. tem assim ó, é... acordo
2005 Suíça", comenta o senador, logo respondido por Bernardo, que
tenta tranquilizá-lo sobre o assunto e afirma que a anotação manuscrita não
teria entrado nos depoimentos do ex-diretor aos investigadores:
"BERNARDO: Hurum
DELCÍDIO: Aí, ele bota assim ALSTOM.
BERNARDO: Hum!
DELCÍDIO: Aí ele diz, aí ele bota assim..
.
EDSON: Acho que não tá apresentado não.
BERNARDO: Oi? Não. Isso foi...
DELCÍDIO: Mas tá trás. Eu vi porque tá escrito.
BERNARDO: Não, não foi. Com certeza não foi. O
problema é que eles (Ministério Público) jogaram esse verde..."
Em outro momento do diálogo o senador não esconde
a preocupação com o fato de Cerveró poder revelar detalhes do envolvimento dele
com a Alstom. "Tá lá assim, acordo de 2010, aí ele bota lá um troço assim,
eu não lembro o nome agora, porque porra rapaz! Eu levei um...Você imagina,
você vai conversar com o cara (André Esteves), de repente o cara me aparece com
uma porra daquela, quer dizer, como é que esse cara conseguiu? E com as
anotações, aí ele diz assim, ele cita o nome Guimarães operador Delcídio E
se..se fosse, que vantagem eu teria de falar para vocês que eu não...",
afirma o senador.
Mais à frente, no diálogo, Delcídio tenta
confirmar com Bernardo Cerveró e com Edson Ribeiro que o ex-diretor não
mencionaria ele e a Alstom na delação, e é tranquilizado pelos dois que
relembram um acordo de Nestor Cerveró com as autoridades do país europeu nas
investigações da Alstom para não ser processado lá. Ao saber disso, o próprio
senador conclui que havia "dinheiro da Alstom" mantido no exterior
pelo ex-diretor Internacional.
"BERNARDO: Isso foi aquela estória que no
final você falou. Que no final eles (MPF) jogaram. A gente sabe que vocês
fizeram que você fez acordo com a Procuradoria que é um acordo de
confidencialidade mas, que em off o tal do procurador suíço
DELCIDIO: Mas ele (Cerveró) chegou a fazer algum
acordo com aquele procurador suíço?
EDSON: Foi fez. Pagou
DELCIDIO: Mas a título de que ele fez?
EDSON: Pagou. Pra não ser processado.
BERNARDO: Pra não ser processado lá.
DELCIDIO: Ah por causa de depósito em conta?
EDSON: Todo dinheiro que tava lá na Suíça ficou
pra Procuradoria da Suíça. Então ele foi processado e o assunto morreu aí.
DELCIDIO: Pois é. E esse dinheiro era o dinheiro
da Alstom? Ah foi por isso que ele fez o acordo? Entendi. Ele nunca me falou
isso".
Fonte: Brasil 247.