Pelo Jornalista Alex Solnik (Já atuou em
publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e
Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu
certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão",
"O domador de sonhos" e "Dragonfly" esse a ser lançado).
"Todos estão contrariados com ela porque
há tanta corrupção que nem ela pode fazer nada".
Uma das grandes contradições do nosso Brasil é a
seguinte: a maioria da população rejeita a corrupção, mas também rejeita a
presidente que rejeita a corrupção.
Falta a compreensão que o cineasta Joel Cohen (um
dos irmãos Cohen), autor da frase acima, em matéria de Rodrigo Salem hoje na
"Folha de S. Paulo" demonstrou ter a respeito da presidente Dilma.
A lucidez de Cohen talvez tenha a ver com seu
relativo distanciamento do dia a dia do país (que costuma visitar), o que o
preservou, portanto, da lavagem cerebral que os brasileiros recebem
diuturnamente através da mídia, que insufla a deposição da presidente e mistura
joio com trigo, sem o menor escrúpulo, mas com muito método.
Se o ambiente não estivesse tão enevoado como
está, saturado de contrainformações, conturbado por noticiário sinistro, que
mais confunde do que explica, impedindo a visão mais clara e sensata dos
acontecimentos, os brasileiros poderiam ter percebido a seguinte coisa estranha:
a pessoa que mais ardentemente deseja e age pela queda da presidente é uma das
mais acusadas de atos de corrupção e as acusações são as mais robustas
possíveis, para dizer o mínimo, suficientes para provocarem haraquiri em outras
sociedades mundo afora.
Não é possível admitir por um segundo sequer que
tal pessoa, que ocupa um dos postos de maior poder no país, queira derrubar a
presidente para acabar com a corrupção. Por que, então, o sr. Eduardo Cunha se
empenha dia e noite em destruir o governo? Não seria o caso de imaginar que ele
quer Dilma fora porque ela é a pedra no sapato dele e dos seus aliados que têm
problemas semelhantes aos seus, se bem que em muito menor grau?
Será apenas mera coincidência o movimento do
impeachment ter sido deflagrado quando a Lava Jato começou a fazer estragos no
mundo político de Brasília?
Combater a corrupção instalada nos governos
brasileiros, provavelmente desde a chegada de Dom João VI e sua corte ao
Brasil, não é fácil. Ter vontade política não é o bastante. Não se acaba com
ela com uma ordem. Com um decreto. Com um passe de mágica. E não é tarefa
isenta de perigos. Não o perigo de perder em votações do Congresso, apenas, mas
a própria vida.
O mais claro sinal de que ela não tem nada a
esconder e está disposta a tirar da toca os ratos que trabalham nos porões para
afundar o navio é permitir investigação profunda do seu próprio governo.
Ela teria, é óbvio, instrumentos para brecar a
Lava Jato, mas não os utiliza e faz questão de manter um ministro da Justiça
que pensa como ela, contra tudo e contra todos.
Dilma é aliada dos que combatem a corrupção, e
não inimiga. Só falta aos que combatem a corrupção perceber.
Querem derrubar Dilma não por ser corrupta. Mas
por não ser.
Fonte: Brasil 247.