Por Tereza Cruvinel (Colunista do 247, Tereza Cruvinel é
uma das mais respeitadas jornalistas políticas do País).
Quando
a situação se torna muito confusa, os políticos gostam de dizer que tem vaca
estranhando bezerro. É o que se dará hoje na disputa pela presidência da
Câmara. Temer agora prova do veneno com que seu partido, o PMDB, sempre
intoxicou governos alheios. A ordem palaciana hoje é tentar evitar a vitória do
peemedebista Marcelo de Castro, ainda que fingindo deixar o jogo correr livre
entre os deputados. Refém de Cunha, o Planalto deixou que ele dirigisse
o jogo de sua própria sucessão e pode colher a primeira grande derrota.
Pode sobrar também para o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, que é
visto como suspeito, pelo núcleo duro palaciano, de ter trabalhado pela escolha
de Castro – que não se bica com Cunha nem presta vassalagem a Temer.
Ainda
que PT e PC do B não oficializem o apoio ao peemedebista, a tentação é grande.
Os dois partidos, mais o PDT, voltam a analisar o quadro hoje. Se Castro
chegar ao segundo turno contra o candidato do Centrão, Rogério Rosso, o Governo
terá que sair do conforto e entrar com tudo na disputa. Mas talvez seja tarde.
O PSDB terá que sair da moita e escolher entre o candidato de Cunha e o
peemedebista enjeitado pelas vacas sagradas do Palácio.
Elas
andaram dizendo que não iriam repetir o erro de Dilma, que teria insuflar um
candidato petista (Arlindo Chinaglia) contra a candidatura de Cunha, no ano
passado. Mas estão repetindo. Dilma também fingiu que não se metia na disputa,
ficou fora das articulações e deixou o barco correr, acreditando que o
candidato petista conseguiria o apoio da maioria dos aliados. Perdeu feio e
pagou caro. Temer fez a mesma coisa, acreditando que Cunha e o
Centrão dariam conta do serviço sozinhos. A verdade é que governo algum
pode brincar com este negócio de sucessão na Câmara. Tem que ter candidato sim,
mas para isso precisa de uma base bem coesa. O que se está vendo, aos poucos, é
que a unidade de abril era contra Dilma mas não era exatamente a favor de
Temer.
O
curral está tão estranho que podem acontecer três coisas, e todas terão
consequências:
1) Vitória
de Castro, que o Planalto terá de engolir mas causará indigestão no baixo clero
do Centrão.
2)
Vitória de Rosso, que dificilmente pacificará a Câmara depois de ter derrotado
o PMDB
3)
Vitória de um dos muitos Severinos que estão no páreo, se um deles chegar ao
segundo turno, hipótese bem menos provável. Fonte: Brasil 247.